08/03/2024 às 06h18min - Atualizada em 08/03/2024 às 06h18min

'É destruidor, é cruel', diz mãe de criança com síndrome de Down e autismo abusada por professor

G1
"É como se eu tivesse imposto uma bomba dentro da minha boca e me explodido. Eu saí sem rumo, sem direção. Eu estou juntando meus pedacinhos espalhados por todo lugar, com o apoio das pessoas, com oração, com a força que eu sinto ao olhar o meu filho e ver que ele precisa de mim, porque é destruidor, é cruel, é uma dor imensurável."

Este é o relato da mãe de uma criança de 11 anos foi abusada por um professor tutor dentro de uma escola particular de Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba.

Segundo o Ministério Público do Paraná (MP-PR), o homem filmou abusos sexuais contra duas crianças e os publicou na deep web. Ele está preso desde janeiro e responde por estupro de vulnerável e armazenamento de pornografia infantil.

Conforme a mãe de uma das vítimas, a criança tem síndrome de Down, autismo e apraxia da fala – distúrbio na qual a pessoa tem dificuldades para formular frases e se comunicar verbalmente.

Ela acredita que isso transformou o filho dela em "uma presa fácil" para o abusador.

O acusado era tutor da criança na escola. Por conta disso, a acompanhava em todas as atividades e lugares: na quadra, no recreio e até mesmo ao banheiro. Foi em um banheiro da escola, inclusive, que os abusos aconteceram, de acordo com denúncia do MP.

De acordo com a investigação, o crime aconteceu no fim de 2022, porém, a mãe teve conhecimento sobre o caso apenas no início de 2024. Ela relata que quando soube do abuso, a criança não estudava mais na escola.

A troca de instituição foi motivada após ela ouvir, do próprio suspeito, que o filho foi retirado de uma atividade com a turma e ficou sozinho, com o professor tutor, em uma sala "vendo vídeos".

O nome do homem e da instituição não foram oficialmente divulgados. O caso tramita em segredo de Justiça.

Em nota, a escola se solidarizou com as famílias, destacou que demitiu o professor tão logo soube do caso e explicou que colabora com as investigações. Afirmou, ainda, que dos dois casos investigados pelo MP, disse ter conhecimento de um.

"Até o momento a escola tem ciência de um caso, mas o Ministério Público divulgou em nota sobre dois casos, o que ainda a instituição não tem conhecimento [...] Reiteramos que todas as medidas de segurança em nossa instituição foram minuciosamente revisadas e intensificadas para garantir um ambiente seguro e acolhedor para os estudantes durante todo o ano letivo."

A escola também disse que como iniciativa preventiva, está desenvolvendo "um plano abrangente de ação que inclui palestras, orientação psicológica e programas de conscientização para alunos, pais e toda a comunidade para orientar como identificar" um possível abusador.

Mudança de comportamento

A mãe descreve a criança como amável, querida, carinhosa, calma e fácil de lidar. Porém depois do abuso, o menino passou por uma mudança de comportamento.

Inicialmente, ela não imaginou que se tratasse de uma situação de violência sexual, mas buscou terapias para entender o que estava acontecendo com o filho.

"Ele começou a se fechar, a não brincar mais com as crianças. Eu ia no parquinho e ele se isolava. Ele começou a fazer xixi na cama, não queria dormir no quarto dele sozinho e ficou agressivo. Não conseguia comer, não queria ir fazer a terapia", relembra.

Além disso, a criança passou a ter resistência em ir para a escola, mesmo estando matriculado em uma instituição diferente.

"Ele escondia a mochila em casa, não queria descer do carro, chorava. Coisas que ele nunca fazia, porque ele sempre amou ir para a escola", afirma.

O caso:

Busca por Justiça e cura

A mãe conta que ela e o filho estão passam atualmente por um processo de cura.

Em 2023, depois da mudança de comportamento do menino, ele passou por terapias alternativas e apresentou uma melhora, mas ainda há um longo caminho pela frente.

"Ele sente que eu estou sofrendo. O que vai me fazer me levantar e me estruturar de novo é esse senso de justiça, fazer com que isso não aconteça nunca mais com nenhuma criança, porque é muita crueldade. Nunca mais na minha vida eu vou esquecer, mas eu vou me reerguer. Eu estou cada dia melhor, porque eu vou fazer justiça", reforça.

Ela pede ainda que os pais prestem atenção nos comportamentos dos filhos.

"Que isso sirva de alerta. É algo muito difícil, principalmente quando a criança não consegue falar o que está acontecendo, mas ela dá sinais e esses sinais não podem ser ignorados, nem distorcidos", finaliza.

Denúncias

Ao identificar um sinal de violência ou negligência contra crianças e adolescentes, qualquer pessoa pode fazer uma denúncia, até mesmo anônima.

Os canais disponíveis atualmente são o 156, 181 e Disque 100, todos com ligação gratuita.

Polícia norte-americana identificou o crime

A Polícia Civil do Paraná (PC-PR) chegou até o professor que filmou abusos sexuais contra as crianças após uma notificação da polícia norte-americana, segundo MP-PR.

Conforme o promotor de Justiça Eduardo Labruna Daiha, o homem publicou os vídeos do abuso na deep web. Os posts foram localizados pela polícia norte-americana, que notificou a polícia brasileira.

Com isso, a Polícia Civil identificou o suspeito e o prendeu.

Os crimes foram cometidos em novembro e dezembro de 2022 e também janeiro de 2024, conforme a investigação.

As investigações também apuraram que o homem aproveitava a posição de autoridade para coagir as crianças a praticar atos libidinosos com ele.


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