02/09/2023 às 08h48min - Atualizada em 02/09/2023 às 08h48min

'O pior é que está tudo documentado', diz Cid sobre escândalo das joias; assista

Uol
Ao tomar conhecimento da descoberta do colar e brincos com diamantes presenteado pelo governo saudita à Presidência do Brasil, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), escreveu, em 3 de março deste ano, ao advogado e ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten que "o pior é que está tudo documentado".

No diálogo de Whatsapp entre os dois, obtido com exclusividade pela coluna, Cid envia, às 19h36, daquele dia, a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo que revelava que as peças, avaliadas em cerca de R$ 5 milhões, foram apreendidas no aeroporto de Guarulhos, em 2021, com um assessor do ex-ministro de Minas Bento Albuquerque e que o ex-presidente tinha tentado recuperar os itens antes de viajar para os EUA, em dezembro de 2022.

Após receber a reportagem de Cid, Wajngarten escreve ao militar: "Eu nunca vi tanta gente ignorante na minha vida". No diálogo, porém, não fica claro a quem o advogado se refere.

Cid então responde a Wajngarten: "Difícil mesmo. O pior é que está tudo documentado". Na sequência, o advogado pergunta: "Documentado como? explique-me por favor". Cid, então, envia uma série de mensagens. O ex-ajudante de ordens, porém, apagou as mensagens depois e, no arquivo visualizado pela coluna, não foi possível saber o que ele disse.

A coluna teve acesso à íntegra das mensagens da conversa entre os dois entre 3 março e 4 de abril deste ano. Procurado, Wajngarten não quis comentar o teor dos diálogos. A defesa de Mauro Cid não retornou aos contatos da reportagem. Ao ler o material, a coluna verificou questionamentos do advogado para Cid à medida que a imprensa divulgava o caso desde o início de março. A PF apura um esquema de desvio de presentes dados à Presidência e desviados para o patrimônio pessoal de Jair Bolsonaro.

Relógio que faz parte de kit de joias da Chopard e foi negociado por Mauro Cid, segundo a PF

Relógio que faz parte de kit de joias da Chopard e foi negociado por Mauro Cid, segundo a PF


Aviso da Receita Federal

No mesmo dia 3, Cid gravou um áudio dizendo: "O presidente só ficou sabendo no final do ano, quando o chefe da Receita [Federal] avisou que tinha um bem presenteado para ele que tava ali. Então foi só bem no final do ano que ele ficou sabendo. Não sei dizer a data. Tanto que, em 2022, ninguém tocou nisso aí. Por isso, que entrou para leilão porque ficou mais de um ano". O chefe da Receita Federal, na ocasião, era Julio César Vieira Gomes.

Na gravação, Cid faz referência a um leilão da própria Receita para itens apreendidos por sonegação de impostos. No entanto, após a eclosão do escândalo, a medida foi suspensa, e o caso das joias passou a ser investigado. O kit estava com o ex-assessor do então ministro Bento Albuquerque, Marcos André dos Santos Soeiro, que participou da comitiva no Oriente Médio, em 26 outubro de 2021.

Horas mais tarde, Wajngarten encaminha uma série de perguntas para Cid sobre a localização do segundo pacote de joias que incluia kit rosé da grife de luxo Chopard que entrou clandestinamente no Brasil. Uma das perguntas enviadas era onde estava o kit.

Cid escreve ao ex-secretário de comunicação: "Ele recebe centenas de presentes. Ele nem sabe o que ele recebeu nesses quatro anos".

Wajngarten então encaminha mais uma pergunta: "Mas onde está o acervo dele neste momento?". Cid é lacônico. "Não sei".

O ex-secretário de Comunicação questiona: "Quem cuida?". Então, Cid é evasivo e faz referência ao coronel Marcelo Câmara, outro auxiliar de Bolsonaro. "Deve estar em algum depósito. Cel Câmara", escreve Cid.

Demonstrando irritação, Wajngarten escreve: "Não pode ser. Pergunte a ele aí e a Célio e ao Pedro". Célio Faria e Pedro Souza foram chefes de gabinete de Jair Bolsonaro na Presidência, Faria também chegou a ser ministro da Secretaria de Governo.

Cid então encaminha uma foto do conjunto masculino e escreve que "não fala onde está o acervo".

Entrega para o TCU

De acordo com as mensagens, o advogado Fábio Wajngarten passou a defender a entrega das joias para o TCU a partir do dia 7 de março. Ao comentar uma reportagem que mencionava que o kit estava guardado em um galpão, Wajngarten escreve a Cid: "Acho que tínhamos de disponibilizar o bem imediatamente através do advogado". Naquele momento, Cid manifesta apoio: "Perfeito!".

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, porém, não mencionou na troca de mensagens que o kit tinha ido com o ex-presidente para os EUA e quase foi vendido por ele em Nova York, como foi descoberto pela PF na "Operação Lucas 12:2" a partir de outros dados do próprio celular do Cid.

Em 9 de março, Wajngarten escreve novamente a Cid: "Tem que devolver imediatamente. É impressionante como ninguém pensa".

Wajngarten também foi intimado a depor na quinta-feira (31), mas optou pelo silêncio por atuar na defesa de Jair Bolsonaro.


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