14/02/2023 às 07h07min - Atualizada em 14/02/2023 às 07h07min

'Acabou com o meu sonho', diz mulher que acusa policial de estupro dentro de delegacia

G1
Crime teria acontecido em um quarto da 12ª DP (Copacabana) — Foto: Divulgação/Polícia Civil
Dez dias após relatar ter sofrido uma violência sexual, a vendedora E., de 25 anos, conta que ainda acorda assustada no meio da noite vendo o rosto do seu abusador e tendo pesadelos com tudo o que viveu.

Ela acusa um policial civil Genilson Barbosa de tê-la estuprado dentro da 12ª DP, em Copacabana. Ela foi até o local depois de ter sido agredida pelo ex-companheiro. Os vizinhos chamaram policiais militares para ajudar na situação, que encaminharam os dois para a delegacia de Copacabana.

Mas antes que pudesse registrar queixa ou poder explicar a situação que vivera, E. viu seu ex-companheiro ser levado para uma cela, e, segundo ela, começou a ser assediada por um investigador.

“Ele começou a dizer frases como: ‘Nem parece que você é mãe’, ‘Qual a sua idade?’. Estranhei as perguntas, mas achei que podia fazer parte de alguma questionário”, disse.

Abuso em quarto na DP

E. conta que, na sequência, foi chamada a acompanhar Genilson a uma sala. Chegando lá, descobriu ser uma espécie de quarto, onde foi trancada e teria começado a sofrer os abusos.

(O relato abaixo contém detalhes que podem ser perturbadores para algumas pessoas)

Ela conta que ouviu a proposta para ter a relação sexual com o investigador, mas que recusou. Foi então que ele teria começado a ameaçar o ex-companheiro de E. dizendo que se ela não aceitasse as investidas, ele o manteria preso e que o torturaria jogando água e dando choques.

O investigador também teria usado de força e mais violência psicológica ao exibir sua arma para a vendedora. Ele também a teria enforcado até conseguir cometer o ato sexual.

E.diz que chamou atenção o fato de o homem ter camisinhas no local, o que, para ela, sinalizaria que ele faria isso costumeiramente.

“Ele acabou com o meu sonho. Eu acreditava na polícia, tinha o sonho de ser policial, mas, em vez de proteger, ele age como bandido. Estou à base de remédio. Acordo à noite em surto, imaginando que ele está invadindo a minha casa ou imaginando o rosto dele”, diz.

A vendedora diz que, após o abuso, o Genilson pediu o número do telefone dela, como se nada tivesse acontecido. Ela deu, mas permaneceu trancada no tal quarto. Ela começou a pedir para ir embora e também a exigir que o ex-companheiro fosse libertado em uma conversa por aplicativo de mensagens.

E. foi liberada por volta das 6h da manhã do dia 4 de fevereiro. Seu ex-companheiro por volta das 8h do mesmo dia.

Queixa em Deam

Ela foi direto para casa, onde contou o que houve para mãe. Muito assustada, pensou em não registar queixa, mas lembrou das aulas do curso preparatório para o concurso da polícia e foi até uma Delegacia de Atendimento à Mulher e fez o registro de ocorrência. De lá, foi encaminhada para exame de corpo de delito, que apontou que ela sofreu violência por ação contundente e solicitou mais exames para atestar o abuso sexual.

“Pensei que não poderia deixar ele livre, continuando a fazer o que fez com outras pessoas. Agora só quero que minha vida volte ao normal, sem trauma e sem medo”, diz.

Após a denúncia, a Polícia Civil afastou o Genilson Barbosa e abriu dois inquéritos – um na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do Centro do Rio e outro na Corregedoria-Geral da instituição – para apurar a conduta dele no caso.

Com o laudo do IML, a Deam do Centro pediu a prisão preventiva do investigador. No entanto, o Tribunal de Justiça negou.

Policial foi afastado e está sendo investigado

O advogado da vítima, Patrick Rosa Barreto diz que vai voltar a pedir a prisão do investigador.

Em nota, a Polícia Civil disse que "o caso está sendo investigado pela Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do Centro do Rio, que ouviu os envolvidos e testemunhas, e realizou outras diligências". O telefone celular do investigador foi apreendido e foi encaminhado para perícia.

Ainda de acordo com a instituição, a Corregedoria-Geral da Polícia Civil (CGPOL) instaurou sindicância e afastou imediatamente o servidor, que não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta e que todos os fatos já estão sendo apurados, assim como as medidas cabíveis serão adotadas no rigor da lei".

A defesa de Genilson Barbosa, que está sendo defendido pelo Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio (SindPol), diz que "o policial tem 24 anos de carreira, sem quaisquer anotações em sua ficha funcional e que a investigação comprovará que ele não cometeu os atos que lhe são imputados e que tem direito à presunção de inocência já que nada restou provado em seu desfavor".


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