27/01/2023 às 09h56min - Atualizada em 27/01/2023 às 09h56min

Cadela 'alimentada' por casal com bitucas de cigarro morre com câncer e doenças no fígado, rins e pâncreas

G1
Casal dava bitucas de cigarro para cadela comer e animal morre com câncer e doenças no fígado, rins e pâncreas em Santos — Foto: PG no Grau
Uma cachorra de 6 anos, que comia bitucas de cigarro dadas pelos tutores, em Praia Grande, no litoral de São Paulo, morreu durante um tratamento contra uma série de problemas descobertos quando ela foi resgatada para ser colocada para adoção. A shih-tzu, que atendia pelo nome de Cacau, teve câncer de mama e danos no fígado, pâncreas e rins, além de sarna negra [lepra canina].

As informações foram passadas ao g1 por uma mulher que não quis ser identificada, mas que iria adotar Cacau assim que ela se recuperasse.

De acordo com ela, quando soube da situação da cadela, ela pediu para duas protetoras animais, Amanda Baltazar e Jaqueline Moreira, irem buscar o animal na casa dos tutores, no bairro Princesa. Amanda relatou à reportagem ter se deparado com uma ‘cena crítica’ ao chegar no imóvel.

Segundo a protetora, a cachorra estava em "um estado deplorável" e com aparentes problemas de pele. Ela conta que ficou perplexa mesmo com a afirmação dos tutores de que o animal comia bitucas de cigarros.

Animal que morava em Praia Grande desenvolveu vários problemas de saúde que, segundo profissionais, podem ter relação com as bitucas de cigarros que ele comia — Foto: ONG Viva Bicho

Animal que morava em Praia Grande desenvolveu vários problemas de saúde que, segundo profissionais, podem ter relação com as bitucas de cigarros que ele comia — Foto: ONG Viva Bicho


“A gente estava conversando e ela [a tutora] estava explicando a condição do cachorro, quando falou que a Cacau comia bituca de cigarro. Ficamos sem reação. Como queríamos tirar o animal daquela situação, não questionamos, por medo deles [os tutores] negarem entregar o cachorro”, disse.

Diante da situação, Amanda e Jaqueline resgataram a cachorra e a levaram imediatamente para uma clínica veterinária. No local, foram solicitados exames de sangue e ultrassonografia, que diagnosticaram vários problemas de saúde.

A clínica que solicitou e analisou os exames afirmou à reportagem que "haviam diversas alterações no estado clínico do animal, que podem sim ter surgido com as bitucas [ingeridas pelo animal], mas nada que aponte ao certo", frisou.

Cachorra chamada de Cacau foi diagnosticada em Praia Grande (SP) com câncer, sarna negra e problemas em órgãos — Foto: PG no Grau

Cachorra chamada de Cacau foi diagnosticada em Praia Grande (SP) com câncer, sarna negra e problemas em órgãos — Foto: PG no Grau


Amanda ressaltou que o custo do tratamento de Cacau seria alto e, por conta disso, levaram a cadela para ser tratada na ONG Viva Bicho, localizada em Santos, também no litoral paulista. No local, ela passou a ser ser chamada de Lisbela e apresentava boa resposta aos estímulos pela recuperação.

“Ela já veio com vários comprometimentos no fígado e tinha uma pancreatite [inflamação do pâncreas] severa, tudo por omissão de socorro. Foi tentado de tudo, mas foi irreversível. A gente tem todas as medicações, as mais modernas do mercado. Mas ela ficou muito tempo sem atendimento. Se tivessem procurado ajuda antes com certeza teriam regularizado a situação dela”, declarou a diretora de bem-estar animal da ONG, Leila Abreu.

Cacau foi resgatada em Praia Grande, mas morreu durante tratamento em uma ONG em Santos — Foto: PG no Grau

Cacau foi resgatada em Praia Grande, mas morreu durante tratamento em uma ONG em Santos — Foto: PG no Grau


Segundo Amanda, assim que o tratamento começou, o animal não resistiu e acabou morrendo. A protetora acrescentou que não foi feita necropsia por conta do valor.

A reportagem conversou com a médica veterinária especializada em necropsia, Rafaela Cassaniga, para confirmar se o motivo da morte de Cacau pode ter relação com os cigarros que foram ingeridos e a especialista disse que sim, mas que só com um exame necroscópico seria possível afirmar.

“Existe uma grande suspeita, porém só um laudo de necropsia poderia confirmar. Por lei, uma pessoa só pode dizer a causa da morte se tiver o resultado da necropsia”, explicou Rafaela.

Denúncia

A mulher que estava interessada em adotar a Cacau denunciou o caso à Delegacia Eletrônica de Proteção Animal (Depa). A Polícia Civil confirmou a denúncia e informou que as autoridades policiais estão investigando o caso, mas os detalhes foram preservados para não atrapalhar na investigação.

“A SSP [secretaria estadual de Segurança Pública do Estado de São Paulo] reforça que as polícias paulistas atuam incessantemente no combate aos maus-tratos contra animais, com auxílio da PM Ambiental e da Divisão de Investigação sobre Infrações de Maus-Tratos a Animais e demais Infrações contra o Meio Ambiente, do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC)”, ressaltou, em nota.

Ainda segundo a Polícia Civil, as denúncias de maus-tratos contra animais podem ser registradas no portal da Depa. “As denúncias são encaminhadas para os distritos policiais em todo o estado de São Paulo, que elaboram os boletins de ocorrências e investigam os fatos. Caso o cidadão presencie a situação em flagrante, deve acionar o 190”.

Maus-tratos

O advogado e presidente da Comissão de Proteção aos Animais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Santos, Felipe Marttinni, informou ao g1 que dar bitucas de cigarros a cachorros se enquadra como maus-tratos.

“Há uma clara conduta dolosa [vontade consciente] dos tutores ao fornecer uma alimentação que sabidamente é inadequada, geradora de doenças, além de ser desconfortável e causar sofrimento. Tudo indica que essa atitude dos tutores foi a responsável pela morte do animal”, afirmou o especialista.

De acordo com o advogado, os tutores podem ser punidos pelo crime de maus-tratos, que segundo explicado por ele, possui pena de dois a cinco anos de prisão. “Como houve a morte do animal, a pena é aumentada”, acrescentou.

Marttinni explico que para comprovar o crime do ponto de vista legal, devem ser anexadas fotos, vídeos, documentos e apresentar testemunhas, além de ser fundamental que um médico veterinário ateste por escrito o ato de abuso ou maus-tratos, após periciar o animal.


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