12/12/2022 às 07h23min - Atualizada em 12/12/2022 às 07h23min

Sem psicólogo, seleção faz 'terapia coletiva' remota para superar trauma da eliminação

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Neymar é consolado, enquanto Antony chora pela eliminação do Brasil na Copa Foto: Jewel Samad/AFP
A eliminação do Brasil na Copa do Catar trouxe uma consequência diferente em relação aos últimos fracassos desde 2006. Nunca antes os próprios jogadores e a rede de apoio que os cerca, entre amigos, familiares, profissionais do futebol, fez uma blindagem tão grande, ao mesmo tempo expondo através das redes sociais e humanizando a derrota. Em tempos de preocupação com saúde mental no esporte individual, a seleção brasileira, que não tem qualquer tipo de trabalho psicológico, foi obrigada a lidar de forma improvisada com a sensação de fracasso e os julgamentos desses tempos rasos, em que se ataca as pessoas por traz de uma tela.

Cada jogador e membro de comissão técnica conseguiu traduzir em palavras seus sentimentos, mas não necessariamente entender como lidar com ele. Foi o caso de Neymar, principal nome da equipe, que desatou a falar tão logo o Brasil perdeu para a Croácia nos pênaltis. Em 48 horas, o camisa 10 desabafou na internet, agradeceu ao técnico Tite, compartilhou conversas com o zagueiro Marquinhos e reforçou o apoio ao jovem Rodrygo - os dois que perderam pênaltis nas quartas de final.

– Eu te conhecia como treinador e já sabia que era muito bom mas como pessoa você é MUITO MELHOR! Você me conheceu e sabe quem eu sou e isso é o que importa pra mim… Venho aqui abertamente te agradecer por tudo, todos os ensinamentos que o senhor nos deu - afirmou o camisa 10 para o técnico. Os demais atletas também se mobilizaram em defesa de Tite.

No desembarque da delegação no Rio, Tite chegou com a família e também foi aplaudido por um grupo de torcedores. Abatido, agradeceu e seguiu para casa sem novas declarações, muito menos em rede social, já que não se comunica dessa forma com o público. Na sua intimidade, estava inconsolável, reservado e entendendo que todas as críticas cairiam sobre ele ao fim do ciclo sem um título. O mesmo vale para seus colegas de comissão técnica, que funcionaram como escudo e deram apoio ao longo de todo o trabalho. Todos abrindo ou ouvidos e o coração apenas para palavras de carinho nesse momento de dor.

— Você merecia ser coroado com essa copa, todos nós merecíamos por tudo que fizemos e por tudo que abrimos mão pra tentar alcançar o nosso maior sonho — emendou Neymar em seu longo texto.

O craque voltou ao Brasil em voo particular, e outros atletas também chegaram no país, como Ederson, Raphinha, Everton Ribeiro, Danilo, Weverton e Rodrygo. O restante ficou pela Europa. Lucas Paquetá seguiu com a família no Catar, assim como Thiago Silva, que teve um vídeo postado pela mulher sozinho, em um canto.

"Tem sido assim. Ele fica sozinho, calado, pensando sabe Deus em quem".

Ronaldo faz coro

A comissão técnica, o diretor Juninho Paulista e o presidente da CBF Ednaldo Rodrigues também desceram no Rio. O único a falar foi Éverton Ribeiro.

— São momentos difíceis, a gente tenta se confortar com palavras, mas é difícil, foi um baque total. Ainda estamos digerindo isso, essa ferida vai ficar aberta por um bom tempo — disse o jogador do Flamengo.

Além de atletas e familiares, Ronaldo Fenômeno, herói do penta em 2002, funcionou como escudo. Presente no Catar e próximo aos atletas, admitiu a decepção pelo desempenho em campo, mas se colocou no lugar dos jogadores.

- Não posso fingir que não vi nada de errado. Discordo profundamente, porém, de quem acha que o erro tá na dança, no brinco, no cabelo ou no pandeiro. As mudanças de comportamento entre gerações são naturais. Como negar o brilho, a competência e a grandiosidade de vocês que são os novos ídolos das nossas crianças? Falhamos sim do ponto de vista técnico. E eu sei que vocês sabem: é legítimo que o torcedor esteja decepcionado nesse momento. Vocês também estão.


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