17/02/2022 às 07h38min - Atualizada em 17/02/2022 às 07h38min

Tragédia em Petrópolis: Número de mortos já chega a 104, e bombeiros dizem ser impossível estimar total de vítimas

O Globo
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
O forte temporal que caiu na tarde desta terça-feira, dia 15, em Petrópolis, na Região Serrana, deixou ao menos 104 mortos na cidade, segundo o governador Cláudio Castro.  Pelo menos 24 pessoas foram resgatadas com vida. Até o momento, são 372 desabrigados ou desalojados. 89 áreas atingidas, 26 deslizamentos e mais de 180 moradores de áreas de risco acolhidos nas escolas. Ainda não há número oficial de desaparecidos. A prefeitura decretou estado de calamidade pública. O número de mortos pode subir em razão de pessoas que estão soterradas em vários pontos do município. O secretário da Defesa Civil e comandante geral do Corpo de Bombeiros, coronel Leandro Monteiro, afirmou que, só no Morro da Oficina, dezenas de casas foram atingidas pela lama. Ele destacou que "há inúmeros desaparecidos", sem precisar o número exato.

O prefeito Rubens Bomtempo afirmou que ainda não é possível saber a dimensão total da tragédia, mas a estimativa é de que haja 10 mil famílias em áreas de risco na cidade. Em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira, o governador Claudio Castro disse que pretende fazer a retirada de famílias que moram em áreas de risco.

A medida se faz necessária diante da possibilidade de ocorrerem novos desmoronamentos, mesmo que sem chuva. Quem fez o alerta é o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Seluchi explica que a situação é crítica e o terreno está tão instável, que podem ocorrer novos desmoronamentos. Castro disse ainda que vai arcar com os gastos para atendimento às vítimas.

Em muitos pontos de Petrópolis, como Morro da Oficina, Quitandinha, Caxambu e Floresta, onde ocorreram deslizamentos provocados pelo temporal, chama atenção o drama dos moradores em busca por pessoas desaparecidas. O número de casas destruídas ou soterradas é muito grande. Pelo menos 400 bombeiros com ajuda de cães participam dos resgates. A Defesa Civil registrou 325 ocorrências, das quais 269 foram por deslizamentos. Os corpos encontrados pelos socorristas estão sendo levados para o Instituto Médico-Legal (IML).

Não é a primeira vez que o Morro da Oficina sofre com chuvas, deslizamentos e mortes. Há 34 anos, nos primeiros dias de fevereiro de 1988, pelo menos 12 pessoas foram soterradas após encostas desabarem na região. Na ocasião, os rios Quitandinha e Palatinado transbordaram e a enchente deixou centenas de desabrigados e desalojados.

Há 90 anos que Petrópolis não via uma chuva tão volumosa em 24 horas como a que foi registrada na cidade nesta terça-feira, com um acumulado de 259 mm. Os dados são do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Nautrais (Cemaden), divulgados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O recorde anterior era de 168,2 mm, em 20 de agosto de 1952.

Nesta quarta-feira, muitos moradores, em um dos pontos do Morro da Oficina, montaram uma força-tarefa junto com os bombeiros para ajudar a cavar, retirar pedras e lama de cima dos escombros. Uma corrente humana precisou ser feita para esvaziar os baldes.

Gizelia Carminate, mãe da adolescente Maria Eduarda, foi uma das pessoas que ajudou nas buscas pela filha, junto com familiares e amigos. Mas à tarde recebeu a notícia que não queria ouvir. A filha não sobreviveu. Além dela, morreram também a comadre e a afilhada de 2 anos. Desde cedo, Gizelia começou as buscas. Com nome da filha tatuado, a todo momento gritava "Duda", na esperança de uma resposta. Com uma enxada nas mãos, ajudava, junto com outros moradores voluntários, a tentar resgatar a jovem sob a lama.

Outras pessoas saíram em busca de seus animais de estimação. A psicóloga Jéssica Barbeto e sua mãe, Angélica, deixaram a residência, Morro da Oficina, correndo na terça-feira, apenas com a roupa do corpo, com medo de um desabamento na localidade da cidade serrana. Passaram a tarde e a noite na rua, só conseguindo chegar de madrugada à casa de uma parente, em outra região da Cidade Imperial. Mas não conseguiram sequer dormir. Isso porque estavam preocupadas com as cadelas Mel e Anny, que ficaram sozinhas na casa após a enchente. Na tarde desta quarta, com o tempo mais firme, elas retornaram e resgataram os animais.

Imagens gravadas por moradores no Morro da Oficina, no bairro Alto da Serra, mostram uma encosta indo abaixo, arrastando construções. Num dos vídeos, pessoas em desespero retiram às pressas crianças de dentro da Escola Municipal Vereador José Fernandes da Silva.

Somente na Rua do Imperador, região Central da cidade, foram encontrados 12 corpos — sendo 11 de mulheres. Agentes da Guarda Civil acompanharam os resgates dos corpos, que estavam presos às ferragens ou ainda submersos no rio.

São poucas as ruas de Petrópolis onde não se encontre ao menos uma marca das fortes chuvas. Em um trecho de poucos metros havia um ônibus, um caminhão e 17 carros amontoados. Além de veículos, era possível ver produtos do comércio local espalhados pelas ruas, misturados à lama.

— A situação é de uma tragédia. O Corpo de Bombeiros tem dificuldade de acessar os locais mais críticos porque há muitos carros, ônibus e abandonados nas ruas. São vários pontos de deslizamento — disse o coronel Leandro Monteiro.

Em visita à cidade, ainda na noite de terça-feira, o governador Claudio Castro declarou ter visto cenas de guerra. Ele se reuniu com o prefeito Rubens Bomtempo e garantiu que haverá ajuda do estado e também da União.

Pelo Twitter, o governador disse ter orientado que "parte dos secretários se desloquem para apoiar a população no que for preciso”. Também pelo Twitter, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, divulgou que ofereceu ajuda. Castro anunciou, ainda, que maquinários de órgãos estaduais e da Cedae vão para a cidade ajudar no socorro e desobstrução de ruas.

Drama nos resgates

Os corpos de vítimas arrastadas pelas enxurrada começaram a aparecer em ruas do Centro da cidade quando a água baixou. Por volta das 23h30, o cenário visto na Rua Teresa, principal polo comercial da cidade, era de devastação. A via ficou coberta por lama, e todas as lojas sem luz. Uma academia de ginástica teve diversos aparelhos de musculação jogados para a rua pela força da água.
O Corpo de Bombeiros pede a doação de água mineral, além que a população que está segura, permanece no local que está abrigada:

— Só no fim da noite os homens que vieram do quartel da cidade do Rio conseguiram chegar por causa de um bloqueio na estrada. Teremos mais de 200 homens chegando na cidade nas próximas horas. A maior difiiculdade de acesso é na região do Morro da Oficina. São muitos desabrigados, desalojados e vamos precisar da ajuda — afirma o coronel.

Tragédia recorrente: Em 2011, temporal e deslizamentos na Região Serrana deixaram 918 mortos

A cidade entrou em estágio de calamidade e, no início da madrugada desta quarta-feira, a Defesa Civil contabilizava 148 pontos de deslizamentos, além de alagamentos e quedas de árvores. A maior incidência de deslizamentos ocorreu nos bairros Centro, Quitandinha, Caxambu, Alto da Serra e Castelânea. Em seis horas, o acumulado pluviométrico atingiu 259 milímetros — acima da média esperada para todo o mês de fevereiro, de 238,2 milímetros.

Diversos locais também estão servindo de abrigo e recebendo doações. Clique nos ícones abaixo para ver detalhes.

Na região do Morro da Oficina, carros foram arrastados pela enxurrada. Ruas viraram rios, deixando moradores em pânico. Já o centro de Petrópolis ficou debaixo d’água: até o quartel dos bombeiros foi completamente inundado. Ontem à noite, parte de Petrópolis continuava sem luz, e pessoas, isoladas à espera de socorro.

O secretário Leandro Monteiro informou que todos os 120 bombeiros dos quartéis de Petrópolis foram para as ruas ontem. Mais uma equipe com 200 agentes estava a caminho da cidade à noite. Segundo ele, há muitos desabrigados e desalojados, que estão sendo levados para escolas e postos de saúde. O trabalho para socorrer pessoas ilhadas e feridas contava com o apoio de botes e de veículos 4x4, além de oito ambulâncias. Policiais militares do 26º BPM ajudaram na operação.

— A maior dificuldade de acesso é ao Morro da Oficina — disse.

Vídeos compartilhados nas redes sociais nesta terça-feira ainda mostram correria no centro de Petrópolis, uma das áreas mais atingidas. Há denúncias que arrastões estariam sendo cometidos na área.

Com a cheia de rios, ruas do Centro ficaram completamente alagadas. Imagens que circulam na internet mostram carros sendo arrastados pela enxurrada nas regiões mais altas do município. Todas as sirenes de Petrópolis foram acionadas, alertando moradores de áreas de risco.

O comandante da Defesa Civil de Petrópolis, tenente coronel Gil Kempers, confirmou que recebeu um alerta do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), mas não soube informar o momento exato. Ele também afirmou que nenhum alerta informa quantos milímetros de chuva que vão cair e que ele esperava uma chuva de verão.

O acúmulo de chuva no município chegou a 259 milímetros em apenas seis horas, sendo que o esperado para todo o mês de fevereiro era de 238 milímetros.

Todos os agentes da Defesa Civil foram acionados; e alertas de chuva forte e inundações pela cidade foram emitidos pelo sistema de SMS, em avisos nas emissoras de televisão nos canais por assinatura, além dos informes por grupos de comunicação aplicativo.

O 26º BPM e agentes da CPTrans fecham as ruas de acesso ao Centro, que está com diversos pontos com inundações e alagamentos. Até o momento 12 ocorrências com deslizamentos foram registradas. As ruas Bingen, Coronel Veiga, General Rondon, Ipiranga, Mosela, Barão do Rio Branco, Rua Gonçalves Dias e os acessos pelos bairros Alto da Serra, Castelânea e Valparaíso estão fechados.


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