13/02/2022 às 09h51min - Atualizada em 13/02/2022 às 09h51min

Morre aos 92 anos Chico Maria, ícone da televisão paraibana

Os Guedes
Foto: Reprodução
O jornalista e bacharel em Direito Francisco Maria Filho (Chico Maria), ícone da televisão paraibana, morreu aos 92 anos na madrugada de hoje em Campina Grande, vítima de enfarte e, também, de complicações da Covid 19. Ele se consagrou em meados das décadas de 70 e 80 ao apresentar o programa “Confidencial” na TV Borborema, então dos Diários Associados, em Campina, entrevistando diferentes personalidades da política e celebridades de destaque nacional. Seu estilo franco, direto, objetivo na formulação das perguntas tornou-o uma legenda, com grande conceito fora da Paraíba. Entre 80 e 90, Chico Maria apresentou o “Paraíba Meio Dia” na TV Cabo Branco, afiliada da Globo, juntamente com o jornalista Nonato Guedes, mantendo o estilo polêmico e irreverente de perguntar.

Ele atuou, também, como delegado e Chefe de Polícia no governo Pedro Gondim, no início da década de 60, firmando-se pela seriedade e imparcialidade na condução de inquéritos policiais sobre crimes rumorosos que abalaram a sociedade paraibana. Estava internado desde a semana passada na UTI do hospital Santa Clara, em Campina Grande, para tratar-se de problemas cardíacos. Em artigo publicado no “Jornal do Brasil” em 7 de março de 1979, o crítico Paulo Maia apontou Chico Maria como “uma revelação” no papel de entrevistador, explicando: “Firme, sem agredir, Chico Maria não recua ante algum entrevistado mais agressivo e não deixa o mais demagogo ficar girando em torno de meias-respostas. Formula as perguntas de maneira sóbria, mas sem vacilar, o que já é elogiável num pequeno e pobre Estado nordestino, em que a grande massa da população vive à mercê de favores do empreguinho da política oficial”.

Uma das entrevistas polêmicas de Chico Maria foi com Dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife. Em uma outra, com o missionário capuchinho Frei Damião de Bozzano, perguntou-lhe se acreditava em Deus, o que levou o religioso a chorar no estúdio da TV Borborema e, em seguida, num acesso de raiva, praguejar contra o apresentador. Na caderneta de Chico Maria figuraram também o jogador Pelé e o líder comunista Luís Carlos Prestes. A este, indagou de que lado ficaria na hipótese de uma guerra entre Brasil e União Soviética. Prestes respondeu que ficaria com a Rússia, o que causou desgaste e repercussão por muito tempo na crônica brasileira. No “Confidencial”, Chico Maria não permitia edição pela censura feita pela emissora. “O que é perguntado e respondido vai ao ar sem subterfúgios e cortes, com erros e acertos, e o tempo da ebtrevista é o do interesse do telespectador”, relatou o crítico Paulo Maia.

Numa reportagem publicada pela revista “Veja” em setembro de 1981, foi descrito o cenário de poucos recursos do programa apresentado por Chico Maria – “munido de apenas uma câmera fixa, dois microfones e duas cadeiras, mas com uma receita simples para o sucesso”. Nessa matéria, há uma frase emblemática de Chico Maria: “Acredito que fazer jornalismo é questionar e provocar as pessoas”. O senador Teotônio Vilela brindou os campinenses com a informação, antes desconhecida, de que seu irmão, o cardeal dom Avelar Brandão Vilela, esteve incluído numa lista de cassações. O jornalista Hélio Fernandes só aceitou ser entrevistado ao vivo. “Caso contrário, me censuram”. Mas saiu satisfeito dos estúdios da TV Borborema. “Em 22 anos, foi a primeira vez que falei com tanta liberdade pela televisão”. O programa não tinha patrocínio e a Borborema, única TV local na época, cedia o horário gratuitamente, assegurando audiência de 80%, superior à do “Jornal Nacional”. O jornalista Nonato Guedes resume assim a trajetória de Chico Maria: “Foi um grande Mestre, que me ensinou lições memoráveis”.

Nota da API

A Associação Paraibana de Imprensa, através de sua diretoria e em nome de todos os associados e associadas, lamenta profundamente o falecimento do jornalista Chico Maria, ocorrido essa madrugada em Campina Grande. Chico estava internado na UTI de um hospital em Campina com problemas cardíacos e não resistiu.

O jornalista tinha mais de 90 anos e marcou época na TV paraibana nos anos 70 e 80 apresentando o programa Confidencial na TV Borborema, onde entrevistava personalidades brasileiras. A forma firme e ética de perguntar o diferenciava.

Antes de se destacar na TV, Chico Maria, que era delegado, iniciou a carreira jornalística publicando crônicas no Jornal Diário da Borborema. Chico atuou também na TV Cabo Branco, afiliada da Globo em João Pessoa, apresentando o “Paraíba Meio Dia”, juntamente com o jornalista Nonato Guedes, mantendo o estilo polêmico e irreverente de perguntar, o que lhe valeu a consagração popular.

A API se solidariza com familiares e amigos próximos pela perda, e ressalta que o estilo e a inteligência de Chico Maria faz muita falta ao jornalismo nós tempos atuais.


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