30/01/2022 às 13h45min - Atualizada em 30/01/2022 às 13h45min

90% dos casos graves na maior UTI Covid-19 do Brasil são de não vacinados

 A Ômicron gerou pandemias dentro da pandemia. A primeira é uma onda que pega muita gente, mas, graças às vacinas, a maioria casos sem gravidade. A segunda pandemia é a das pessoas não vacinadas ou apenas com o esquema vacinal incompleto. Para elas, a Ômicron tem potência de tsunami e se mostra tão devastadora quanto as variantes anteriores do vírus.

A face agressiva da Ômicron é visível nos leitos de UTI do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ela está expressa nos rostos dos pacientes intubados e ligados a máquinas. Está estampada na angústia daqueles fora do tubo, mas prostrados, sem forças para reagir ao ataque da Covid-19 e cientes da gravidade de seu estado.

A maioria dos casos de Covid-19 que agrava e mata — mais de 90% — é de não vacinados ou indivíduos com vacinação incompleta, mostram dados do hospital, que, por seu tamanho, é um microcosmo da pandemia no Brasil.

A Covid-19 grave da Ômicron é como a da Delta e a da Gama das ondas anteriores da pandemia: tira o ar, rouba as forças, inflama, infesta o corpo com trombos. Não há som nas salas de UTI do Gazolla, além daqueles dos equipamentos. Para quem adoece, 2022 chegou como uma volta ao pior de 2020.

— A Ômicron aparentemente tem um menor potencial de levar ao agravamento. Mas observamos que os casos que evoluem para uma maior gravidade são os de não vacinados ou com esquema vacinal incompleto (sem a terceira dose). Muitos deles estão intubados ou à beira de ir para a intubação. Quando a Covid-19 da Ômicron agrava, é como a das demais variantes — afirma o diretor do Gazolla, Roberto Rangel.

Nesses pacientes sem proteção de vacina se vê com nitidez o comprometimento pulmonar severo e o padrão de vidro fosco, com opacidades. Estão lá as alterações fisiopatológicas típicas das demais variantes do coronavírus, como trombos disseminados. Tudo isso se traduz em intenso sofrimento, oculto sob o jargão médico de desconforto respiratório e síndrome respiratória aguda grave.

— Temos uma população muito vacinada e, por isso, se criou uma ilusão que a Ômicron é leve. Mas, para quem não tomou vacina, é tão perigosa quanto as outras variantes. Temos uma pandemia de doença leve para os vacinados e outra grave para quem não quis se vacinar ou está com o esquema incompleto — enfatiza Rangel.

Maior UTI de Covid-19 do Brasil, o Gazolla havia dado alta ao último paciente com coronavírus em novembro de 2021, e sua equipe esperava que o pior tivesse passado. O hospital geral voltou a atender pacientes de outras doenças. Durou pouco. Em janeiro, os casos graves não apenas voltaram quanto explodiram.

E desta vez os médicos enfrentam um perfil diferente da doença delineado não pela Ômicron, mas pelas vacinas. Estar ou não completamente vacinado é determinante na gravidade, frisa Roberto Rangel. É a proteção conferida por elas que impede que a maioria das pessoas desenvolva um quadro grave.

Na última quinta-feira, o Gazolla estava com 350 dos seus 420 leitos dedicados a pacientes com Covid- 19. Os 70 leitos não Covid, à medida que forem desocupados, se tornarão Covid. Por ora, os pacientes sem Covid estão isolados num andar exclusivo, para evitar contaminação. Desde o início do mês, o hospital voltou a só admitir pacientes com Covid, transferidos para lá pela Central Estadual de Regulação.

Do total de pacientes internados, 45% não se vacinaram, 39% estão com o esquema vacinal incompleto e os demais são vacinados com esquema completo. Os vacinados apresentam uma peculiaridade: já sofriam de doenças graves e são, em sua maioria, idosos.


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