24/01/2021 às 16h49min - Atualizada em 24/01/2021 às 16h49min

Secretário de Saúde que vacinou a 'mulher da vida dele' pede exoneração

G1
Secretário Assis Maria Silva e esposa Pires do Rio vacina coronavírus Covid-19 Goiás — Foto: Reprodução/Facebook
O secretário municipal de Saúde de Pires do Rio, no sudeste do estado, Assis Silva Filho pediu exoneração do cargo neste domingo (24), após pedir desculpas em rede social por vacinar a esposa que não pertence ao grupo prioritário na primeira etapa da campanha de imunização contra a Covid-19.

“Foi com intuito de resguardar e preservar a saúde e a vida da mulher da minha vida. Sou capaz de dar minha própria vida por ela”, afirmou em vídeo publicado na internet.

No pedido de exoneração, Assis Silva diz que a decisão de deixar o cargo é de caráter "irrevogável" e "irretratável" e de cunho pessoal. A confissão do desvio de dose da CoronaVac recebida pelo município aconteceu em uma transmissão ao vivo em rede social. Segundo planilha da Secretaria Estadual de Saúde, Pires do Rio recebeu 280 doses.

O pedido de exoneração vem também dois dias depois de a Justiça de Goiás conceder liminar para tirar Assis Silva do cargo por 60 dias, enquanto o Ministério Público (MP-GO) investiga a "furada de fila" para aplicar a vacina na esposa.

O promotor de Justiça de Pires do Rio, Marcelo Borges Amaral, diz que a investigação que corre dentro do órgão continua.


"A investigação do MP prossegue normalmente. A exoneração não interfere em nada na apuração de crime", explica.

Segundo Assis Silva, a esposa dele tem mais de 70 anos e o acompanha no trabalho, visitando muitas vezes as unidades de saúde do município. No entanto, não está prevista a vacinação de pessoas idosas que não estejam institucionalizadas nesta primeira fase do programa de imunização da Covid-19.

O MP passou a ter acesso ao cadastro de vacinados para cruzar os dados de quem recebeu a dose da CoronaVac com os nomes de quem está na lista do grupo prioritário nesta primeira etapa, a fim de identificar as "furadas de fila" na campanha de imunização.

Goiás recebeu 183.030 doses da vacina para imunizar 87.127 pessoas do grupo prioritário. Para isso, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) enviou 90.280 doses para todas as cidades.

Prioridades

Segundo diretrizes do Ministério da Saúde (MS) e da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), devem ser vacinados contra a Covid-19, com prioridade:

Profissionais da saúde;
Pessoas idosas residentes em instituições de longa permanência (institucionalizadas);
Pessoas a partir de 18 anos de idade com deficiência e residentes em Residências Inclusivas (institucionalizadas);
População indígena vivendo em terras indígenas.

Furada de fila

Ao menos outras duas cidades goianas registraram casos de “furada de fila”, em que pessoas que não estão nos quatro grupos prioritários são imunizadas: Mineiros e Santa Helena de Goiás, ambas no sudoeste goiano.

Em Santa Helena, a imunização de uma dentista causou revolta em moradores. Ela trabalha em clínica particular de odontologia e não pertence ao grupo prioritário definido pelo MS. Já em Mineiros, o ex-prefeito Agenor Rezende foi vacinado, apesar de ter mais de 60 anos, ele não mora em abrigo.

Punição e riscos

A subprocuradora-geral de Justiça do Ministério Público de Goiás, Laura Maria Ferreira, afirmou que o plano de imunização tem que ser cumprido e que, caso contrário, o gestor responsável pela “furada de fila” pode ser punido.

"[Crimes] que podem ser tipificados como abuso de autoridade para o gestor, como a famosa 'carteirada'. Isso não pode acontecer ", disse.

O Ministério Público de Goiás passou, na sexta-feira, a ter acesso ao cadastro de pessoas vacinadas contra a Covid-19 no estado a fim de identificar as "furadas de fila" na campanha de imunização. Moradores que desconfiarem de irregularidades também podem denunciá-las ao órgão.

Na quinta-feira (21), a presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Goiás (Cosems), Verônica Savatim, falou sobre o risco de desrespeitar a lista de prioridades. “As doses vieram específicas. [...] O grande risco é você deixar de vacinar aquele grupo que ficou definido e vacinar outros que não estavam pactuados. O profissional de saúde, por exemplo, está muito exposto, independente de onde estiver”, pontuou.


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