02/09/2019 às 16h02min - Atualizada em 02/09/2019 às 16h02min

'O bom e o ruim no SOS da Transposição em Monteiro', por Luís Tôrres

A acalorada discussão que antecedeu o ato do SOS Transposição, em Monteiro, na Paraíba, tomou neste domingo duas direções claras, como um rio que se divide para a direita e para a esquerda antes de chegar ao destino final.

Num lado do afluente, o ´direito´, a justa causa da defesa do projeto de Transposição. Do outro, a indiscutível motivação política, com as opções de escolha pró Lula ou anti Bolsonaro, que caracterizou o evento de hoje. E definiu o público que esteve em cima e à frente do palco.

Longe das disputas políticas, quem disser que lutar para preservar o funcionamento regular da obra nos trechos inaugurados ou brigar pelo avanço dos trechos paralisados é um crime, ou não mora no Nordeste ou bom sujeito não é.

E isso vale toda classe política, detentores de mandato, poderes constituintes e sociedade civil organizada. No caso específico, que serviu de mote para o chamamento de Monteiro, a suspensão do bombeamento não é uma invencionice.

É o próprio Governo Federal que formalmente avisou que suspendeu o bombeamento. Apresenta justificativas técnicas para tal. Mas mandou fechar. Se o fechamento sinaliza para descaso ou até mesmo boicote da obra como um todo, é difícil de atestar agora.

O fato é que fechou, que Boqueirão apresentou redução na sua vazão, e que os demais trechos estão parados (?), diante de ataques públicos de governistas sobre a obra.

Por isso, que vale o choro antecipado para não deixar que a coisa, eventualmente, desande sem que ninguém tenha dado um pio sequer.

Até aí tudo bem. O problema é que as águas que afluíram na outra margem do rio, o lado “esquerdo”, as que correm sob motivação política, foram mais fortes, se sobrepondo sobre as da justa causa.

O evento em Monteiro foi um ato de posições políticas. Da esquerda, da oposição a Bolsonaro, em favor de Lula, e do próprio PT. Qualquer pessoa que não reunisse em si ao menos uma dessas características, não poderia estar ali, em cima ou embaixo do palco, dando coro ao evento.

Nenhum erro por parte dos políticos deste campo de atuação política. Ao contrário, estrategicamente, estão até corretos, demarcando posições, defendendo suas bandeiras, fazendo oposição. Espólios que a democracia garante a quem está fora do poder.

Especialmente, o ex-governador Ricardo Coutinho, que, mesmo sem mandato há oito meses, continua puxando para si um protagonismo político, com inserções nacionais, pouco visto em outros chefes do Executivo que deixaram o mandato no dia 31 de dezembro de 2018. Compare-o a Temer ou a Robson Farias (ex-governador do Rio Grande do Norte) e perceba facilmente que Ricardo ainda está militando como se mandato tivesse, diferentemente de quem sumiu após os fogos do reveillon.

Só que as águas que correram na margem política, embaladas por carta de Lula, pintadas pelo vermelho do PT, e frases anti bolsonaristas, suplantaram a margem da “direita” do rio.

E o risco é que façam secar.

Depois de hoje, nenhum governador, deputado federal ou prefeito poderá ficar constrangido pela ausência neste ato e em outros com a mesma formatação. O vermelho do PT que dominou o SOS é álibi para qualquer um deles.

Porque num mundo em que somente os ingênuos vivessem, e que as motivações políticas não existissem, a briga pelo retorno das águas chegando por Monteiro deveria ser pauta de toda a bancada federal paraibana, incluindo os 12 deputados federais, os três senadores, o governador João Azevedo, o Ministério Público Federal, e toda sorte de forças que pudessem se reunir em favor do tema.

Até mesmo os políticos mais ligados a Bolsonaro, usando de suas influências para, junto aos ministérios e ao próprio presidente, tentar reverter o quadro.

Mas às aguas dessas discussão correram à revelia deste controle de qualidade.

Pode ser que tenham contaminado o debate. Quem quiser mexer no tema agora vai ter que começar explicando que não se trata de ser contra Bolsonaro ou a favor de Lula. Trata-se de defender um dos maiores projetos de redenção social deste país.

E olhe que não está descartado que precisem mexer um dia, no futuro. Em se tratando de defender a Transposição, impossível dizer que desta água nunca beberei.


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