09/09/2018 às 19h01min - Atualizada em 09/09/2018 às 19h01min

Bolsonaro faz campanha dentro do hospital no Brasil, diz jornal Le Monde

UOL

Segundo o jornal francês, em edição que chega às bancas nesta segunda-feira (10), o candidato se tornou o "mártir" da extrema-direita no Brasil. "Desta guerra entre dois Brasis, sairá um vencedor", afirma Le Monde.

"Ontem alvo de seus adversários por seus ataques contra as mulheres, os homossexuais e os negros, Jair Bolsonaro se tornou intocável [após ser esfaqueado]", diz o jornal Le Monde. O vespertino afirma que a campanha para as eleições presidenciais no Brasil continua depois do "drama", "mais agressiva e brutal do que nunca".

Le Monde relata durante a matéria o conteúdo de dois vídeos postados pela equipe do candidato, "ferido sobre o leito do hospital". "Vemos o capitão da infantaria, com a voz trêmula, agradecer a Deus, jurando 'nunca ter feito mal a ninguém'", relata o jornal, ressaltando que "alguns [brasileiros] falam de um jogo de cena indecente, outros saúdam a coragem da vítima".

Segundo a correspondente do periódico no Brasil, Claire Gatinois, ainda é cedo para avaliar as consequências políticas da agressão que poderia ter tirado a vida do candidato do Partido Social Liberal (PSL). "Mas a maioria dos analistas, com certeza mais comedidos do que [seu filho] Flávio Bolsonaro, preveem uma progressão nas pesquisas de intenção de voto", diz.

Le Monde afirma que o PSL busca soluções alternativas para continuar a campanha de Jair Bolsonaro. Uma delas seria colocar em destaque o candidato à vice, o general Hamilton Mourão. "Mas o homem, conhecido por ter declarado que, em caso de caos, os militares deveriam 'impor uma solução' – uma alusão a um possível golpe de Estado militar-, poderia assustar os indecisos", analisa.

"Onipresente"

"Mesmo ausente, recluso em seu quarto de hospital, Jair Bolsonaro é onipresente", escreve o jornal francês. "Num país onde a televisão é crucial para ganhar uma eleição, o candidato pode ser visto na abertura de todos os jornais televisivos, ao mesmo tempo que seu estado de saúde ou o avanço da investigação sobre seu agressor são acompanhados minuto a minuto pelos canais de informação, ininterruptamente", publica o vespertino.

Le Monde recorda ainda que Geraldo Alckmin, candidato da "direita moderada", teve que rever sua estratégia, "retirando seus vídeos de campanha onde ataca implicitamente o representante da extrema-direita, criticando as referências às armas de fogo". Lula, que para o jornal francês, era u, "protagonista virtual" da campanha, "passa ao segundo plano". "Como a esquerda, que comparava o ex-chefe de Estado a um 'prisioneiro político', a extrema-direita tem agora o seu mártir", avalia.

O jornal lembra que "as tropas" de Bolsonaro não hesitam em qualificar o autor do ataque com a faca de "comunista", enquanto o suspeito, que foi durante certo tempo filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), apresenta "indícios de problemas mentais". "Desta guerra entre dois Brasis, sairá um vencedor", diz Le Monde, que questiona se a progressão previsível de Bolsonaro, cansado dos políticos tradicionais e da ingerência do Estado, poderia lhe oferecer uma vitória na eleição presidencial.


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