23/08/2018 às 13h22min - Atualizada em 23/08/2018 às 13h22min

Homem diz ter sido abusado pelo menos 50 vezes em centro religioso

Extra.Globo
Um homem que frequentou por cerca de dois anos o Centro Espiritualista Semeadores da Luz (CESL), na Ilha do Governador, relata ter sido foi vítima de pelo menos 50 atos libidinosos praticados pelos líderes religiosos do local. Outro frequentador do centro sofreu abusos por 14 anos consecutivos. Uma terceira vítima se submeteu a cinco relações sexuais e, após questionar a prática, foi convencida a manter os atos durante um ano, acreditando ser obrigada a cumprir o compromisso de ordem espiritual já assumido.

Esses são alguns casos relatados na denúncia que o Ministério Público estadual ofereceu à Justiça na terça-feira. De acordo com o documento, os líderes religiosos Marcelo Antonio Marques Prazeres, Leonardo Campello Ribeiro e Jayson Garrido de Oliveira abusaram sexualmente de seguidores em rituais de "iniciação tântrica".

A investigação sobre os abusos começou em julho do ano passado e foi concluída em dezembro. Na ocasião, a Polícia Civil indiciou os três suspeitos e pediu a prisão de dois deles. Ao todo, 25 pessoas foram ouvidas. Ao longo dos depoimentos, constatou-se que Marcelo, Leonardo e Jayson simulavam incorporar entidades e usavam de sua posição para manter relações sexuais com homens e mulheres que frequentavam o local.

Um dos frequentadores que denunciou o caso relatou ter sido submetido a pelo menos 50 atos libidinosos, entre maio de 2014 e agosto de 2016. De acordo com seu relato, Marcelo, um dos líderes espirituais do centro sugeriu que ele deveria praticar a iniciação tântrica para trabalhar seus conflitos sexuais. A partir daí, começou a manter relações sexuais frequentes, sob o pretexto de elevação espiritual e resolução de conflitos internos.

Outra vítima relatou que começou a frequentar o centro em 1997 e, desde aquele ano, foi convencido por Marcelo da importância de realizar prática tântrica e manter o sigilo "iniciático", a fim de alcançar maior evolução espiritual, através do ato sexual, para despertar um chacra. Os abusos continuaram até 2011, quando a vítima descobriu que estava sendo manipulada por Marcelo. De acordo com seus relato, durante o ato sexual os líderes religiosos usavam vestimentas brancas, repetiam mantras, utilizavam ervas e mel.

Uma terceira vítima chegou a questionar as práticas, após ter cinco relações sexuais com um dos líderes religiosos, mas foi convencido a continuar. As práticas começaram em maio de 2006 e duraram até o final daquele ano. Ao todo, foram 14 atos. De acordo com seu relato, os líderes religiosos, que se diziam instrutores tântricos fidedignos e de confiança, o incentivaram a continuar a manter relações para alcançar maior evolução espiritual.

Ao todo, foram colhidos depoimentos de 12 vítimas que sofreram abusos por parte dos líderes religiosos. A maioria das vítimas afirmou, em depoimento, que os líderes ludibriavam e manipulavam os frequentadores com seus conhecimentos sobre diversas vertentes religiosas. Um dos líderes teria abusado de uma adolescente de 15 anos, em sua própria casa, alegando estar sendo possuído por "Exu Caveira" em um ritual chamado por ele de "magia vermelha".

A denúncia do MP trata Marcelo e Leonardo como "pessoas inteligentes, com profundos conhecimentos religiosos e alto poder de persuasão". No centro, que alega pregar o universalismo como filosofia, reunindo vertentes religiosas de umbanda, candomblé, Igreja Gnóstica Cristã e correntes orientais, os três, de acordo com a denúncia do MP, diziam estar possuídos por entidades como "Caboclo Pena Branca", "Preta-Velha Maria Conga", "Vovô-Rei Congo de Aruanda" e "Boiadeiro Urubizara" para coagir os fiéis a ter relações com eles.

ACUSADO FINGIA SER PSICÓLOGO

A Promotoria denuncia ainda que Leonardo, identificado como vice-presidente do centro, sabia dos abusos e não os impediu, inclusive incentivando as vítimas a obedecerem à vontade de Marcelo. Ele também é denunciado por praticar atos sexuais com fiéis, afirmando que uma entidade havia determinado. Leonardo foi denunciado ainda por fingir ser psicólogo e exercer irregularmente a profissão ao menos 67 vezes com diferentes vítimas, cobrando pelas sessões realizadas em um consultório dentro do próprio centro - ele chegou a ter um filho com uma das vítimas, segundo o documento. Em um dos depoimentos à polícia, uma suposta vítima, que trabalhava como secretária no centro, afirma que Leonardo uma vez afirmou que seu problema de insônia era causado por abstinência sexual.

O trio foi denunciado no artigo 215 (violação sexual mediante fraude), com pena prevista de reclusão de 2 a 6 anos, e no artigo 171 (estelionato), com pena de 1 a 5 anos, ambos do código penal. Em depoimento à polícia, Jayson Garrido de Oliveira negou os abusos. Marcelo Antonio Marques Prazeres admitiu ter mantido relações sexuais com seguidores. Segundo ele, a maioria dos atos aconteceram fora do centro, e os atos praticados dentro do centro só ocorreram por insistência da vítima. Já Leonardo Campello Ribeiro admitiu ter mantido relações com duas frequentadoras do centro, às quais prestava supostos serviços de psicologia, mas afirmou que foram relações pessoais.


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