07/06/2024 às 07h09min - Atualizada em 07/06/2024 às 07h09min

‘Não existe disparo acidental na nuca’, diz irmã de fiscal morto em abordagem da PM

Extra
Reprodução/Redes sociais
O fiscal de rampa de voo livre Luiz Fernando do Carmo Freitas, de 27 anos, saiu de casa pilotando uma motocicleta, na noite de terça-feira, na Cidade de Deus, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, para ir ajudar a mãe, moradora do Bairro da Taquara, a cuidar de alguns gatos de estimação. Poucos metros depois, um tiro disparado por um policial militar, atingiu a nuca da vítima. O rapaz que sonhava em se tornar instrutor de voo livre e era apaixonado pelo Fluminense, chegou a ser levado para um hospital, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

Nesta quinta-feira, durante o velório do fiscal no Cemitério do Pechincha, a família de Luiz Fernando disse não acreditar na versão sustentada em uma nota, expedida pela Polícia Militar, onde a corporação afirma que tiro ocorreu de forma acidental, durante um cerco tático na entrada da Cidade de Deus, feito por PMs do 18ºBPM (Jacarepaguá), na altura da Rua Gusmão Lobo.

— Meu irmão era habilitado para conduzir motocicletas. Ele não tinha perfil de que avançaria uma blitz. A família não acredita em disparo acidental. Esta versão (de tiro acidental) é banalizada no Rio. A gente tem que entender que não existe disparo de fuzil acidental na nuca. Meu irmão não fazia nada de errado. Saiu da casa dele para ir à casa da nossa mãe e aconteceu isso — disse a professora Mel Fontes, de 34, irmã da vítima.

Segundo a família, algumas testemunhas que teriam presenciado o que aconteceu já fizeram contato se oferecendo para prestar depoimento na 32ªDP (Taquara), unidade que investiga o caso.

O advogado Rodrigo Mondengo, da Comissão Popular de Direitos Humanos, que acompanha as investigações sobre a morte de Luiz Fernando, disse que o caso foi inicialmente registrado pelos PMs na 32ªDP (Taquara) como desobediência e lesão corporal culposa. Segundo o advogado, o relato feito pelos policiais culpabilizava a vítima pela situação que causou a própria morte. Ele defende que o inquérito seja remetido para a delegacia de Homicídios da Capital, na Barra da Tijuca. 

 — A gente teve acesso ao registro de ocorrência, o caso foi registrado primeiramente como desobediência, depois foi aditado como desobediência e lesão corporal culposa. Não estava ainda a morte do Luiz Fernando, o que a gente acha surreal, porque o registro de ocorrência foi culpabilizando o Luiz Fernando, mesmo estando em moto própria, mesmo estando com a documentação legal, mesmo não estando com absolutamente nada ilegal com ele, foi culpabilizando o Luiz Fernando pela própria morte. Porque ele, teoricamente, segundo os policiais, teria desobedecido (uma suposta ordem de parar), e isso levou ao policial se enganar e cometer o equívoco, e sem querer, disparar e acertar a nuca dele. Eu acho absurdo a forma que está registrado esse caso, mas eu acredito que a autoridade policial vai mudar isso e que esse caso deve ser encaminhado para a Delegacia de Homicídios da Capital tendo em vista que se trata de homicídio e não d e outro crime — disse Mondego.

Procurada, a Polícia Civil informou que o caso está atualmente tipificado como homicídio culposo (quando não intenção de matar) na 32ªDP. A nota da corporação diz ainda que os policiais militares envolvidos na ação foram ouvidos e que imagens de câmeras dos uniformes dos agentes já fora reaquistadas. Por fim, também foi informado que um fuzil usado para disparar o tiro que matou Luiz Fernando foi apreendido e será periciado.

Também procurada, a Polícia Militar emitiu nota lamentando a morte do fiscal de rampa de voo livre. O documento informava que a corregedoria da corporação instaurou um procedimento para apurar a conduta do agente responsável pelo disparo. A nota diz ainda que os PMs que participaram da ação que causou a morte da vítima serão convocados a participar de um programa integrado de capacitação profissional para reforçar técnicas de abordagem previstas nos protocolos da corporação.

Segundo amigos, Luiz trabalhava na rampa de voo livre de São Conrado, na Zona Sul do Rio, há pouco mais de um ano. Descrito por parentes como uma pessoa alegre e querida por todos, Luiz Fernando foi sepultado no Cemitério do Pechincha, em Jacarepaguá.

— Meu irmão era alegre e muito querido. Isso o que aconteceu causou revolta nas pessoas. Meu irmão era apaixonado por altura. O sonho dele era se tornar um dia instrutor de voo livre — disse Mel Fontes.

Pouco antes do sepultamento, amigos do rapaz e familiares, usando camisas com a foto de Luiz, fizeram orações e se despediram do fiscal.

Apaixonado pelo Fluminense, Luiz Fernando teve o caixão coberto por uma bandeira do clube pelo qual torcia. O hino do clube também foi tocado antes do corpo ser sepultado sob uma salva de palmas. Luiz Fernando deixa mãe, pai e quatro irmãos.

Relembre o caso

Luiz Fernando morreu na noite da última quarta-feira (5) após ser atingido por um disparo acidental feito por um policial militar do 18º BPM (Jacarepaguá) durante um cerco na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. A corporação afirmou que um procedimento interno foi instaurado para apurar as circunstâncias do que aconteceu e informou que os agentes usavam câmeras corporais nos uniformes. O caso é investigado pela 32ª DP (Jacarepaguá).

A vítima chegou a ser socorrida para o Hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, e transferida para o Hospital municipal Miguel Couto, na Gávea, na Zona Sul. O corpo passará por uma necrópsia no Instituto Médico-Legal (IML).

Segundo a PM, a equipe do 18º BPM fazia um patrulhamento na Estrada dos Bandeirantes, na altura da localidade Karatê, quando viram um homem transitando com uma moto no sentido Taquara "em atitude suspeita", conforme afirmou a corporação em nota.

Os agentes, então, fizeram um "cerco tático" até o momento em que a moto entrou na Rua Gusmão Lobo, um dos acessos à Cidade de Deus. Ainda de acordo com a PM, foi nesse momento que ocorreu o disparo acidental. A corporação afirmou que o socorro à vítima foi imediato.

A PM destacou que "segue trabalhando em parceria com a Polícia Civil, num trabalho conjunto de apoio às investigações".


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