28/05/2023 às 09h41min - Atualizada em 28/05/2023 às 09h41min

MÁFIA DAS APOSTAS: Saiba qual time, rebaixado, teve mais atletas envolvidos; confira

Jogadores fizeram chamada de vídeo com chefe de esquema de apostas dentro do vestiário Reprodução/MP-GO
Ligação para apostador direto do vestiário, um jogador que aliciava colegas para a quadrilha e um cartão amarelo tomado apenas cinco minutos de jogo. Todas essas situações, reveladas em mensagens obtidas pela Operação Penalidade Máxima, aconteceram no Brasileirão de 2022 com o Juventude, que terminou a competição na última colocação com apenas 22 pontos — a quarta pior campanha da história dos pontos corridos. Um mapeamento do escândalo das apostas feito pelo GLOBO a partir da análise das 2.686 páginas da investigação do Ministério Público de Goiás (MPGO) revela que o alviverde é o time envolvido em mais jogos com suspeitas de manipulação: a máfia das apostas fez acordos com atletas da equipe gaúcha em cinco partidas diferentes da Série A somente entre setembro e novembro de 2022. Via O Globo

O levantamento, que deu origem a um mapa interativo sobre o escândalo das apostas disponível no site do jornal, também revela que o Juventude é um dos clubes com mais atletas envolvidos no esquema de apostas ilegais: cinco jogadores que atuavam pela equipe de Caxias do Sul — Gabriel Tota, Paulo Miranda, Moraes, Vitor Mendes e Pará — foram aliciados pelos apostadores para tomarem cartões amarelos. O Sampaio Corrêa, que terminou o ano na 14ª colocação da Série B, também teve cinco atletas cooptados pela quadrilha. Na ferramenta, os leitores podem conferir os resultados, o resumo das apostas feitas, os jogadores aliciados e as equipes envolvidas em cada uma das partidas suspeitas.

A primeira partida identificada pelo MP-GO em que atletas do Juventude foram aliciados foi o empate em 1 a 1 contra o Avaí, em 3 de setembro. Na ocasião, o nome do zagueiro Vitor Mendes — hoje afastado pelo Fluminense — apareceu numa lista de combinações de apostas compartilhada num grupo de apostadores na véspera da partida. Mendes, de fato, foi punido com cartão amarelo aos 44 minutos do primeiro tempo. Depois do jogo, o nome do zagueiro foi novamente mencionado, dessa vez numa lista de jogadores a quem a quadrilha devia dinheiro: o jogador teria aceitado participar do esquema em troca de R$ 50 mil. Naquela rodada, a quadrilha teve lucro de R$ 730 mil.

‘Trago vários pra você’

O sucesso motivou uma nova rodada de apostas para a rodada seguinte — e os apostadores, inicialmente, contavam com Mendes. “Ele operou semana passada com nois (sic). Vai receber essa semana a outra parte! Resumo: ele foi titular e fez no primeiro tempo! (sic)”, afirmou Bruno Lopez, o BL, apontado pelo MP-GO como chefe da quadrilha, aos comparsas. A investigação também obteve uma conversa entre Vitor Mendes e BL, em que os dois fazem planos para a a próxima rodada. “Você tem que trazer jogador pra mim. Ganha uma comissão por fora também”, disse Bruno. Mendes respondeu: “Você tem que me quitar que aí irmão trago vários pra você”.

A quadrilha, entretanto, acabou desistindo de fechar com Mendes para o jogo seguinte, contra o Palmeias. “Adicionar ele não tá mudando a liquidez”, afirmou Thiago Chambó, um dos apostadores, no dia da partida. Ele se referia ao retorno das apostas após descontados os custos com o pagamento dos jogadores. Mas o Juventude ainda tinha outro jogador na lista de acordos da quadrilha para a rodada: o lateral-esquerdo Moraes, que começou o jogo no banco de reservas, entrou aos 22 minutos do segundo tempo e tomou cartão amarelo cinco minutos depois. A equipe gaúcha perdeu a partida por 2 a 1.

“Eficiente o menino, já tomou com cinco minutos de jogo”, comemorou Victor Coimbra, um dos apostadores, no momento em que Moraes foi punido. "Carai, esse moleque é brabo mesmo hein, é dos nossos!", respondeu Guilherme Alpino.

Na rodada seguinte, o Juventude jogaria contra o Fortaleza — e atletas do clube seguiram em contato com a quadrilha. Após a mulher de BL fazer uma transferência de R$ 35 mil para uma conta em seu nome, Vitor Mendes voltou para a lista de apostas que seriam feitas pelo grupo e ainda indicou um jogador para participar do esquema: o meia Max Alves, do Colorado Rapids (EUA), time da MLS. “Mendes é jogador nosso. Já quitamos ele e pagamos sinal. Ele que trouxe esse da MLS pra nós. Ele é responsa Já fez com nois uma vez. Confiança!”, escreveu BL.

Outro jogador do Juventude aliciado para o jogo contra o Fortaleza foi o zagueiro Paulo Miranda. Segundo a denúncia do MP-GO, a quadrilha prometeu R$ 60 mil para que ele tomasse um cartão amarelo, sendo que R$ 5 mil foram efetivamente pagos. O depósito foi feito na conta de outro atleta do elenco, o meia Gabriel Tota, que também era próximo dos apostadores. Vitor Mendes e Paulo Miranda levaram cartões, respectivamente aos 19 minutos do primeiro tempo e aos 41 da segunda etapa.

Acordo não funciona

No dia 16 de outubro, a poucos minutos do Juventude entrar em campo para enfrentar o Atlético-GO, jogadores da equipe gaúcho fizeram uma chamada de vídeo com os apostadores. “Ó, o homem que dá dinheiro pra nós tá aqui”, teria dito Gabriel Tota segundo o relato de BL aos comparsas. Prints da ligação foram obtidos pelo MP-GO. Nos dias que antecederam a partida, os apostadores haviam fechado um acordo com Tota para que ele tomasse um cartão amarelo. No entanto, como o meia foi informado que não seria titular, ele indicou um colega, Pará, para tomar o cartão. Como ambos não entraram em campo, o acordo não funcionou nessa rodada.

Os contatos entre a quadrilha e os jogadores do Juventude foram retomados em novembro, antes do jogo contra o Goiás. Moraes e Paulo Miranda aceitaram receber R$ 50 mil cada para tomar cartões amarelos. O meia recebeu adiantamento de R$ 20 mil e o zagueiro, de R$ 10 mil, que foram depositados na conta de Gabriel Tota. O time entrou em campo matematicamente rebaixado, e os dois atletas cooptados foram punidos logo aos cinco minutos.

Como o site de apostas inicialmente não computou o cartão amarelo de Paulo Miranda, os apostadores ficaram preocupados. “Qual a fita do PM?”, perguntou BL a Tota logo após o apito final. “Ele tomou, tá na súmula. Antes do intervalo, nós fomos perguntar certinho”, respondeu o jogador. O cartão, de fato, foi computado.

Gabriel Tota e Paulo Miranda — ambos atualmente sem clube — foram denunciados e são réus na Justiça de Goiás. Moraes, hoje na Aparecidense-GO, fez um acordo com o MP e é testemunha no processo. Vitor Mendes e Pará (Santo André) foram apenas citados nas conversas. O Juventude disputa a Série B do Brasileiro.


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