Itens do ex-presidente Lula (PT) e do atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL), predominam nas barracas dos comerciantes Foto: Fernanda Alves / Agência O Globo
A propaganda eleitoral só começa para valer em agosto, mas os rostos dos pré-candidatos à Presidência já estão estampados nas ruas do Rio e alimentam outra disputa: pela clientela. É que vendedores ambulantes estão apostando em produtos — camisas, toalhas e bonés — com estampas dos presidenciáveis para fazer dinheiro. Na Rua do Catete, José Costa, de 59 anos, montou sua banca, que apelidou de Barraca da Democracia sem Caô e conta com produtos que vão além da polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele tem itens de João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT). Mas confessa que ser democrático vem saindo mais caro.
— Para não dizer que ninguém compra (os produtos dos outros candidatos, além de Lula e Bolsonaro), na segunda-feira vendi uma do Doria. O Moro (Sergio Moro, que desistiu da candidatura) me deu muito prejuízo. Fiz uma compra boa, e ele desistiu — diz.
Na Barraca da Democracia sem Caô, do comerciante José Costa, de 59 anos, peças de candidatos da terceira via também têm vez
José é ambulante há anos, mas a ideia da barraca surgiu após a última manifestação do Sete de Setembro, quando vendeu produtos com estampa de Bolsonaro. Como sobraram camisas, ele decidiu ampliar a iniciativa, oferecendo itens de todos os pré-candidatos. Já no Largo do Machado, o concorrente Jeferson Gaspar Ferreira, de 31 anos, vende toalhas, camisas e bonés só dos dois favoritos nas últimas pesquisas de intenção de votos. Com a ajuda da namorada lulista, a estudante Miriam Nascimento, de 27 anos, o bolsonarista Jeferson investe na oposição entre os principais nomes dessa eleição, mas, até em seu relacionamento, prova que o respeito a opiniões diferentes é o seu guia. O casal conta que só consegue trabalhar juntos porque parou de discutir política. Agora, eles evitam o assunto perto dos clientes.
— Tem gente que deixa de comprar produto de um candidato porque tem do outro, e xinga outros clientes. Ontem, uma senhora de idade estava abraçando a toalha do Bolsonaro, quando um apoiador do Lula veio criticar — diz Jeferson.
De um lado ou outro da disputa, a verdade é que Lula e Bolsonaro são bons de venda:
— Vendem mais ou menos a mesma coisa, não sei dizer qual é o campeão de vendas. Hoje, está saindo mais o Lula, mas semana passada, teve dias em que foi Bolsonaro — afirma Jeferson, que vem recebendo pedidos de produtos de outros candidatos, principalmente Ciro.
Ex-entregador de geladeiras, o ambulante ficou desempregado na pandemia e começou a vender máscaras há dois anos. Com o fim da obrigatoriedade do acessório, ele sofreu uma queda abrupta nas vendas e foi buscar novos produtos. Ontem, sua barraca voltou a fazer sucesso com toalhas de banho (R$ 40) — a mesma que Pabllo Vittar recebeu dos fãs num show no Lollapalooza e que foi alvo de ação no TSE — e de rosto (R$ 6), camisas (R$ 40) e bonés (R$ 20) com os rostos de Lula e Bolsonaro estampados.
— O que mais vende é tudo relacionado a política. Principalmente toalhas grandes e os bonés — conta o comerciante.
É na Rua Senhor dos Passos, no Centro, na loja de Evelim Corrêa e Fábio Fernandes, que o vendedor do Largo do Machado compra seus produtos para revenda. Evelim e Fábio vendem as toalhas com o rosto dos políticos há pelo menos três anos. Desde o Lollapalooza, a proprietária de duas lojas no Centro (a segunda fica na Rua da Alfândega) conta que a procura só aumenta.
— Nós sempre vendemos as toalhas de Lula e Bolsonaro, mas agora estão na moda com as eleições. E na semana após o Dia das Mães, as vendas aumentaram mais ainda. Agora o foco são só festa junina e as disputas de outubro — conta Evelim.
A comerciante explica que recebe a mercadoria de São Paulo e revende as toalhas grandes e pequenas para outros camelôs pela cidade. Enquanto vende, a loja vira palco de discussão política.
— É sempre muita briga na porta da loja, e os vendedores que compram de nós relatam o mesmo. Atualmente tem vendido mais a do Bolsonaro. É a que acaba mais rápido — afirma.
Rosane Correa, de 67 anos, apoia a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, mas evita levar os produtos para não discutir em família
As barraquinhas de Jeferson e José atraem clientes de todos os posicionamentos políticos e curiosos, que param para fazer fotos. Os camelôs em volta também participam das discussões políticas. A síndica do prédio em frente ao ponto em que Jeferson vende seus produtos, Rosane Correa, de 67 anos, costuma passar na barraquinha para deixar claro seu apoio ao presidente candidato à reeleição, mas não compra nada para não ter problemas com a família.
— Beijo a toalha porque ele não está aqui. Ele é lindo de morrer. Só não coloco na minha janela, porque meu filho é petista e não quero ter problema. Não tem por que brigar com a família — pondera.
A professora Fernanda Gomes promete divulgar a venda das toalhas de banho com a estampa de Lula e quer até virar o voto do vendedor, em busca da vitória do petista
Outra moradora dos arredores, a professora Fernanda Gomes foi quem deu a ideia a Jeferson de vender as toalhas de banho. Militante da esquerda, ela diz que pretende divulgar o empreendimento.
— Se depender de mim, Jeferson vai até votar no Lula por conta do lucro que vai ter — torce a professora.
Para evitar confusão, o comerciante evita discutir política e veste uma peça de cada pré-candidato.
— Cada venda é uma ideologia diferente. Tem horas que as pessoas gritam, e começa a confusão. Já me acostumei, não é fácil. Teve uma vez que uma cliente disse que eu, preto e pobre, não poderia vender nada do Bolsonaro — conta Jeferson.
Lulista, o dono da Barraca da Democracia sem Caô também evita falar sobre o seu voto durante o trabalho:
— Independentemente de quem ganhar, quero vender — brinca José.