16/05/2022 às 07h19min - Atualizada em 16/05/2022 às 07h19min

Camelôs antecipam campanha, e presidenciáveis já estão 'à venda'

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Itens do ex-presidente Lula (PT) e do atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL), predominam nas barracas dos comerciantes Foto: Fernanda Alves / Agência O Globo
A propaganda eleitoral só começa para valer em agosto, mas os rostos dos pré-candidatos à Presidência já estão estampados nas ruas do Rio e alimentam outra disputa: pela clientela. É que vendedores ambulantes estão apostando em produtos — camisas, toalhas e bonés — com estampas dos presidenciáveis para fazer dinheiro. Na Rua do Catete, José Costa, de 59 anos, montou sua banca, que apelidou de Barraca da Democracia sem Caô e conta com produtos que vão além da polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele tem itens de João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT). Mas confessa que ser democrático vem saindo mais caro.

— Para não dizer que ninguém compra (os produtos dos outros candidatos, além de Lula e Bolsonaro), na segunda-feira vendi uma do Doria. O Moro (Sergio Moro, que desistiu da candidatura) me deu muito prejuízo. Fiz uma compra boa, e ele desistiu — diz.

Na Barraca da Democracia sem Caô, do comerciante José Costa, de 59 anos, peças de candidatos da terceira via também têm vez

Na Barraca da Democracia sem Caô, do comerciante José Costa, de 59 anos, peças de candidatos da terceira via também têm vez


José é ambulante há anos, mas a ideia da barraca surgiu após a última manifestação do Sete de Setembro, quando vendeu produtos com estampa de Bolsonaro. Como sobraram camisas, ele decidiu ampliar a iniciativa, oferecendo itens de todos os pré-candidatos.
Já no Largo do Machado, o concorrente Jeferson Gaspar Ferreira, de 31 anos, vende toalhas, camisas e bonés só dos dois favoritos nas últimas pesquisas de intenção de votos. Com a ajuda da namorada lulista, a estudante Miriam Nascimento, de 27 anos, o bolsonarista Jeferson investe na oposição entre os principais nomes dessa eleição, mas, até em seu relacionamento, prova que o respeito a opiniões diferentes é o seu guia. O casal conta que só consegue trabalhar juntos porque parou de discutir política. Agora, eles evitam o assunto perto dos clientes.

— Tem gente que deixa de comprar produto de um candidato porque tem do outro, e xinga outros clientes. Ontem, uma senhora de idade estava abraçando a toalha do Bolsonaro, quando um apoiador do Lula veio criticar — diz Jeferson.

De um lado ou outro da disputa, a verdade é que Lula e Bolsonaro são bons de venda:

— Vendem mais ou menos a mesma coisa, não sei dizer qual é o campeão de vendas. Hoje, está saindo mais o Lula, mas semana passada, teve dias em que foi Bolsonaro — afirma Jeferson, que vem recebendo pedidos de produtos de outros candidatos, principalmente Ciro.

Ex-entregador de geladeiras, o ambulante ficou desempregado na pandemia e começou a vender máscaras há dois anos. Com o fim da obrigatoriedade do acessório, ele sofreu uma queda abrupta nas vendas e foi buscar novos produtos. Ontem, sua barraca voltou a fazer sucesso com toalhas de banho (R$ 40) — a mesma que Pabllo Vittar recebeu dos fãs num show no Lollapalooza e que foi alvo de ação no TSE — e de rosto (R$ 6), camisas (R$ 40) e bonés (R$ 20) com os rostos de Lula e Bolsonaro estampados.

— O que mais vende é tudo relacionado a política. Principalmente toalhas grandes e os bonés — conta o comerciante.

É na Rua Senhor dos Passos, no Centro, na loja de Evelim Corrêa e Fábio Fernandes, que o vendedor do Largo do Machado compra seus produtos para revenda. Evelim e Fábio vendem as toalhas com o rosto dos políticos há pelo menos três anos. Desde o Lollapalooza, a proprietária de duas lojas no Centro (a segunda fica na Rua da Alfândega) conta que a procura só aumenta.

— Nós sempre vendemos as toalhas de Lula e Bolsonaro, mas agora estão na moda com as eleições. E na semana após o Dia das Mães, as vendas aumentaram mais ainda. Agora o foco são só festa junina e as disputas de outubro — conta Evelim.

A comerciante explica que recebe a mercadoria de São Paulo e revende as toalhas grandes e pequenas para outros camelôs pela cidade. Enquanto vende, a loja vira palco de discussão política.

— É sempre muita briga na porta da loja, e os vendedores que compram de nós relatam o mesmo. Atualmente tem vendido mais a do Bolsonaro. É a que acaba mais rápido — afirma.

Rosane Correa, de 67 anos, apoia a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, mas evita levar os produtos para não discutir em família

Rosane Correa, de 67 anos, apoia a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, mas evita levar os produtos para não discutir em família


As barraquinhas de Jeferson e José atraem clientes de todos os posicionamentos políticos e curiosos, que param para fazer fotos. Os camelôs em volta também participam das discussões políticas. A síndica do prédio em frente ao ponto em que Jeferson vende seus produtos, Rosane Correa, de 67 anos, costuma passar na barraquinha para deixar claro seu apoio ao presidente candidato à reeleição, mas não compra nada para não ter problemas com a família.

— Beijo a toalha porque ele não está aqui. Ele é lindo de morrer. Só não coloco na minha janela, porque meu filho é petista e não quero ter problema. Não tem por que brigar com a família — pondera.

A professora Fernanda Gomes promete divulgar a venda das toalhas de banho com a estampa de Lula e quer até virar o voto do vendedor, em busca da vitória do petista

A professora Fernanda Gomes promete divulgar a venda das toalhas de banho com a estampa de Lula e quer até virar o voto do vendedor, em busca da vitória do petista


Outra moradora dos arredores, a professora Fernanda Gomes foi quem deu a ideia a Jeferson de vender as toalhas de banho. Militante da esquerda, ela diz que pretende divulgar o empreendimento.

— Se depender de mim, Jeferson vai até votar no Lula por conta do lucro que vai ter — torce a professora.

Para evitar confusão, o comerciante evita discutir política e veste uma peça de cada pré-candidato.

— Cada venda é uma ideologia diferente. Tem horas que as pessoas gritam, e começa a confusão. Já me acostumei, não é fácil. Teve uma vez que uma cliente disse que eu, preto e pobre, não poderia vender nada do Bolsonaro — conta Jeferson.

Lulista, o dono da Barraca da Democracia sem Caô também evita falar sobre o seu voto durante o trabalho:

— Independentemente de quem ganhar, quero vender — brinca José.


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