04/04/2022 às 21h41min - Atualizada em 04/04/2022 às 21h41min

'Janela da infidelidade é uma excrescência da política brasileira', por Josival Pereira

Por Josival Pereira

A tal da janela da infidelidade partidária, fechada na última sexta-feira, é uma excrescência da política nacional.

O Brasil talvez seja o único país do mundo onde existe uma infidelidade política legalizada. Serve para alimentar as conveniências pessoais e partidárias, além do jogo de barganhas, sobretudo de quem detém o poder.

Na atual quadra da história do Brasil há algo pior. Não é exagero supor que a maioria das transferências partidárias ocorridas na janela foram impulsionadas pelo fundo eleitoral. Nos bastidores da política paraibana, nos últimos dias, era comum se ouvir que esse ou aquele partido havia oferecido um tanto de suporte em dinheiro, sempre acima do milhão, para atrair parlamentares ou candidatos com bom potencial de voto.

O caráter mais ideológico ou programático que se imaginava que ocorreria com o fim das coligações e a abertura da janela da infidelidade fracassou. Poderá até vir com o decorrer do tempo e depurações em processos eleitorais, mas, este ano, a troca de partido foi mais orientada para garantir a reeleição de muitos dos atuais caciques partidários.

Nessa perspectiva, a janela da infidelidade foi uma farra nacional. Mais de 23% dos deputados federais (algo em torno de 122) mudaram de legenda durante o mês de março. Como era de se esperar, o partido do presidente Bolsonaro, o PL, recebeu a maioria das adesões, 42 deputados, ficando com a maior bancada da Câmara (75 parlamentares), um crescimento, extra processo eleitoral, de 78,5%.

Na Paraíba, 22 deputados estaduais mudaram de partido na janela da infidelidade, o que representa 61% dos integrantes da casa. As mudanças foram menores, mas, mesmo assim, 4 dos 12 deputados federias mudaram de legenda (33%). Quase todos alegaram a necessidade de sobrevivência política, mas muitos uniram a fome com a vontade de comer.

A existência da janela da infidelidade na política nacional só demonstra que o país não dispõe de democracia consolidada na qual os personagens principais, que são os políticos, responsáveis pela formulação de ideias e projetos para o progresso e harmonia da sociedade, não cultivam base moral e não agem por convicção, mas por interesses pessoais e de grupos. Essa excrescência precisa acabar.


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