05/12/2021 às 06h43min - Atualizada em 05/12/2021 às 06h43min

Pai e madrasta são condenados por torturar e matar menino de 6 anos, que implorou por água e comida

Revista Crescer
Na última quinta-feira (2), o casal Thomas Hughes e Emma Tustin, do condado de Warwickshire, na Inglaterra, foi considerado culpado por um júri pela morte de Arthur Labinjo-Hughes, de 6 anos, no dia 17 de junho de 2020. O pai do menino, Thomas, foi condenado a 21 anos de detenção. Já a madrasta, Emma, recebeu pena de prisão perpétua e terá de ficar no mínimo 29 anos na prisão.

Durante o julgamento, que se estendeu por cerca dois meses, os jurados foram expostos a provas que mapearam a crueldade que o casal impôs ao menino em seus últimos meses de vida. Os promotores apresentaram materiais que confirmaram que Arthur foi torturado, sofrendo diversas agressões psicológicas e físicas, o que incluía deixá-lo sem água e comida, fazê-lo dormir no chão da sala e forçá-lo a ficar isolado por horas.

Segundo os promotores, a madrasta gravou mais de 200 arquivos de vídeo e áudio mostrando o menino em situações degradantes, sendo abusado, zombado e atacado fisicamente. Em um do áudios, Arthur pôde ser ouvido implorando para ver o tio Blake, a quem o acesso foi negado: "Por favor, me ajuda, me ajuda, tio. Eles não estão me dando comida, eu preciso de um pouco de comida e bebida", pedia o menino.

De acordo com o The Thelegraph, quando Arthur morreu, ele tinha mais de 130 áreas de hematomas no corpo, descritas no tribunal pelo promotor Jonas Hankin como "um hematoma para cada dia de confinamento", durante o início da pandemia de covid-19. "A violência era um estilo de vida para ele no lockdown", acrescentou Hankin durante o julgamento.

Ainda segundo o The Thelegraph, foi informado ao tribunal que, durante os episódios de violência, Arthur não estava frequentando a escola, onde seus ferimentos poderiam ter sido notados pelos professores, pois as unidades estavam fechadas em razão das medidas de distanciamento social.

Ao ler a sentença, o juiz Mark Wall disse ao tribunal de Coventry Crown que o caso foi "um dos mais angustiantes e perturbadores" com os quais ele já teve de lidar. Segundo a BBC, ele destacou que nenhum dos réus demonstrou qualquer remorso e que o comportamento do casal foi "rancoroso e sádico". O juiz disse à dupla: "O tratamento cruel e desumano de Arthur foi uma decisão deliberada de vocês de ignorar seus gritos de socorro como maldade".

Mark Wall ainda descreveu Emma como uma mulher manipuladora, capaz de contar qualquer mentira e colocar a culpa em qualquer um para salvar a própria pele. "Você queria Thomas Hughes para que pudesse sustentar você e seus próprios filhos, mas não queria mais ser incomodada por Arthur", afirmou o juiz referindo-se à madrasta, que se recusou a deixar a cela e a comparecer ao tribunal para ouvir a sentença.

Já para Thomas, o juiz ressaltou que, como pai do menino, ele tinha uma posição de confiança e era o principal responsável por protegê-lo. "Ele era extremamente vulnerável e você mentiu para a escola dele nos últimos dias da vida de Arthur para defender você e Emma", declarou durante a sentença.

Na última sexta-feira (3), o veredito do julgamento foi noticiado pelos principais jornais britânicos, que chamaram a atenção para as falhas na conduta dos agentes públicos para evitar a tragédia. Em abril de 2020, a avó paterna do menino já tinha alertado o serviço de proteção social de que o neto talvez pudesse estar sendo sofrendo maus-tratos, mas teve as suas preocupações ignoradas. A família havia notado hematomas nas costas do menino e presenciou cenas de Emma o empurrando contra a escada e proferindo xingamentos sobre sua aparência e personalidade.

Quando assistentes sociais visitaram a casa, na cidade de Solihull, foram facilmente enganados a pensar que estava tudo bem. A polícia também visitou Arthur, mas não encontrou problemas, apesar de ter recebido fotos mostrando os hematomas nas costas do menino. Nenhuma outra ação foi tomada.

Após o julgamento, o primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Johnson, afirmou que os detalhes do caso são "profundamente perturbadores". Ele disse estar "feliz que a justiça tenha sido feita", mas "não é um consolo" e é preciso garantir que as lições sejam aprendidas.

O dia do crime

Arthur faleceu em 17 de junho de 2020. Laudos feitos pela perícia indicaram que ele morreu por causa de um trauma na cabeça, decorrente de batidas repetidas contra uma superfície dura. Segundo a acusação, Emma foi a responsável pelas agressões. Os promotores disseram que tudo aconteceu enquanto o menino estava sob os cuidados dela. Embora o pai não estivesse presente na ocasião, ele foi culpado pela morte, pois "encorajou" a violência contra seu filho e negociou os espancamentos, informou a BBC.

No dia do crime, a madrasta teria batido no enteado e, depois, usado o celular para fotografá-lo, enquanto agonizava no corredor da casa. Apesar de estar com o telefone na mão, ela levou 12 minutos para acionar o serviço de emergência. Ela disse aos médicos que o menino havia caído e que, enquanto estava no chão, havia batido mais cinco vezes a cabeça.

Arthur sofreu uma parada cardíaca e foi levado ao Birmingham Children's Hospital. Exames mostraram que ele tinha "contusões extensas em todas as partes do corpo" e sangramento no cérebro, devido à "escassez de oxigênio e suprimento sanguíneo". "Resultados bioquímicos anormais levantaram hipóteses de que Arthur também havia sido envenenado com sal", completou o advogado de acusação. Horas depois de receber atendimento médico, o menino não resistiu.


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