27/10/2021 às 16h25min - Atualizada em 27/10/2021 às 16h25min

Pastora é presa suspeita de manter mulheres em cárcere privado em clínica de reabilitação sem alvará

G1
Vítimas foram resgatadas e encaminhadas à delegacia, em Foz do Iguaçu — Foto: Zito Terres/RPC
Uma pastora foi presa como suspeita de manter mulheres em cárcere privado, além de sequestro e maus-tratos, em Foz do Iguaçu, segundo a Polícia Civil.

A prisão ocorreu, na terça-feira (26), após 16 mulheres serem resgatadas em uma casa de reabilitação, que foi interditada por falta de alvará. Conforme a polícia, a pastora investigada era a coordenadora do local.

A polícia investiga se as mulheres viviam em cárcere privado, ambiente insalubre e sob situação de maus tratos. A suspeita é de que elas também sofriam tortura psicológica.

De acordo com a Polícia Civil, a suspeita foi presa em flagrante depois de quase seis horas de depoimentos das vítimas, das testemunhas e da própria investigada.

A pastora foi levada para a Cadeia Pública de Foz do Iguaçu, e a defesa disse que não irá se manifestar.

Quatro das mulheres que estavam na clínica foram acolhidas pela Assistência Social do município.

Nesta quarta, o serviço deve definir com elas, caso desejem, como devem retornar para os locais de origem.

As demais, que tinham condições, se organizaram para voltar para casa de forma independente.

Vítimas

Segundo a Polícia Civil, as internas passaram por exame de corpo de delito e toxicológico, para que a polícia saiba que tipo de medicamentos elas estavam ingerindo.

Em conversa com a equipe da RPC, algumas mulheres que moravam nessa clínica disseram, sem se identificar, que eram tratadas com muita agressividade e que constantemente eram ameaçadas pela pastora.

“Era agressiva, tinha tom intimidador com as pessoas, deixava as pessoas com medo. Se as pessoas se exaltavam, às vezes, ela dava remédio para as pessoas para deixar dopadas, para dormirem, para não incomodarem mais.”

Segundo elas, as internas eram obrigadas a tomar medicações desconhecidas sob ameaça de sofrer retaliações.

“A alimentação era boa, mas a água tinha terra, às vezes, muita terra, e gosto não era bom. O café, teve um dia, que a gente tomou da água da piscina, fervida e tal, mas foi água da piscina", contou.

A mulher contou ainda que era comum as internas ficarem sozinhas e que um funcionário ingeria bebida alcoólica dentro da casa de reabilitação.

“A minha colega queria fumar um cigarro porque a mãe dela estava doente, e a dona da clínica, primeiro, bateu na cara dela e, depois, deu muitas chineladas, muitas mesmo e ficou roxo.”

Local

A clínica de recuperação funcionava em uma chácara, na região do Bairro Três Lagoas.

O imóvel foi alugado há cerca de sete meses com a finalidade de tratar mulheres que têm problemas com álcool e drogas.

O valor pago pelas internas ou pelas famílias variava de R$ 600 a R$ 1,8 mil, e o espaço era administrado por uma pastora evangélica.

Segundo a Polícia Civil, a casa não tinha autorização para funcionar.

Além disso, algumas internas contaram que estavam lá contra a vontade ou sem o consentimento da família.

Denúncia

As vítimas foram resgatadas durante uma operação de vários órgãos de segurança.

A fiscalização ocorreu após uma denúncia de que mulheres eram vítimas de cárcere privado e maus-tratos, e que viviam em condições insalubres.

De acordo com a polícia, as 16 mulheres resgatadas foram ouvidas pela delegada Iane Cardoso e contaram o que viveram durante o período de internação.

Elas foram liberadas depois de prestarem depoimento, mas disseram que não tinham para onde ir e não tinham contato de parentes.

Por isso, a Vigilância Sanitária lavrou um termo de intimação, com base no código de saúde do Paraná, para que os responsáveis pelo estabelecimento encaminhem, em 48 horas, as mulheres para uma casa de reabilitação legal ou para as famílias das mesmas.


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