A empresária Jessika Aldrey Germiniani, de 26 anos, que teve o pulmão perfurado durante uma sessão de acupuntura em Sorriso, no norte do estado, disse que sentiu dor e falta de ar durante o procedimento, no entanto, a massoterapeuta que a atendeu disse que "era normal". A sessão foi realizada na segunda-feira (11) e, horas depois, a jovem foi para o hospital, onde está internada desde então.
"Na hora que foi colocada a agulha senti dor e falta de ar, mas foi falado que era normal, que fazia parte do procedimento. [...] Continuei sentindo muita dor. Vim ao hospital e me levaram para fazer tomografia. Assim que terminei, o médico falou que tinha ar no meu pulmão e precisava operar. Entrei em desespero, relatou.
Jessika foi submetida a uma cirurgia de emergência e está usando um dreno no pulmão para tentar 'limpar' todo o ar comprimido no órgão. Nesta quinta-feira (14), o médico fechou o dreno para avaliar como o pulmão vai reagir. Caso a jovem consiga respirar sem dificuldades, poderá receber alta.
"Depois da cirurgia continuei sentindo muita dor, pois o dreno fica entre as costelas. Agora estou aqui me recuperando. Continuo sem previsão de alta e, por enquanto, estou apenas na expectativa", disse.
A empresária disse ter procurado uma massoterapeuta no início da semana, pois estava com dores no pescoço. Segundo a jovem, a profissional, que atende aos clientes na casa dela, insistiu em realizar uma sessão de acupuntura nas costas para adiantar o processo de recuperação.
Conforme o relato da paciente, a todo momento, desde a aplicação da agulha, ela sentiu dor e teve dificuldade para respirar. Orientada por uma colega fisioterapeuta, Jessika procurou o hospital imediatamente.
"Ela [fisioterapeuta] sugeriu que poderia ter acontecido o mais improvável, que era ter perfurado meu pulmão. Também liguei para a massagista para perguntar quantos centímetros ela havia enfiado a agulha, mas ela não explicou direito, falou que era coisa da minha cabeça", contou.
No hospital, Jessika fez um exame de tomografia, que apontou uma perfuração no pulmão.
O laudo apontou pneumotórax, descrito como "presença de ar entre as duas camadas da pleura (membrana fina, transparente, de duas camadas que reveste os pulmões e o interior da parede torácica), resultando em colapso parcial ou total do pulmão". Entre os sintomas, estão dificuldade respiratória e dor torácica.
Jessika Aldrey Germiniani usará um dreno até limpar todo o ar do pulmão — Foto: Jessika Germiniani/Arquivo pessoal
Além do dreno, a empresária deverá ser acompanhada por uma fisioterapeuta, posteriormente, para conseguir recuperar as funções do pulmão.
Se feita por um profissional capacitado e com materiais adequados, a acupuntura pode trazer benefícios à saúde. Veja alguns deles no vídeo abaixo:
A técnica da acupuntura
O Ministério da Saúde informa que, segundo a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), a Medicina Tradicional Chinesa (MTC)/Acupuntura é de caráter multiprofissional. É necessária a formação em cursos de especialização.
Além de aliviar a dor, a técnica é utilizada como terapia preventiva e pode evitar que as dores aumentem e comprometam outros locais.
O médico acupunturiatra André Luiz Zanchetta Penedo, que atua na área há mais de 20 anos, explicou que a técnica é eficaz, mas pode ocasionar danos ao paciente quando realizada por uma pessoa sem experiência na área.
"Se a pessoas assistir a vídeos na internet, pensa que a acupuntura é algo muito simples e fácil, mas não é bem assim. A agulha deve ser inserida em uma profundidade e ângulo certo, com o estímulo certo para acontecer o resultado", explicou Zanchetta.
O especialista afirmou ainda que não é normal sentir dores intensas no momento do procedimento e que, caso isso aconteça, o paciente deve ser acompanhado e encaminhado ao hospital.
"Casos assim são raros. Não é normal sentir dor, pois quando estimula o ponto certo não há dor. O paciente pode sentir uma sensação de choque ou câimbra, dependendo do ponto, mas é superficial. O maior problema nesse caso foi ter orientado a paciente a ficar em casa", avaliou.
Caso raro
O coordenador da Associação Brasileira de Acupuntura (ABA), Sérgio Galdino, também avaliou que um casos como o de Jessika são raros e geralmente acontece quando o procedimento é feito por um profissional sem preparação na área.
O coordenador afirma que o curso da ABA de acupuntura é de 25 meses e ensina técnicas específicas. Um profissional precisa ter essa habilitação para atuar.
A associação também afirma que está apurando a situação para saber se a profissional tem realmente habilitação para a acupuntura ou se entra no procedimento ilegal.