20/06/2021 às 12h59min - Atualizada em 20/06/2021 às 12h59min

Tripulação fica presa no mar por semanas após morte de capitão do navio

O capitão Angelo Capurro começou a manifestar sintomas de Covid-19 no segundo dia no mar. Dentro de cinco dias, o comandante de 61 anos ficou confinado na cabine, incapaz de sair da cama.

Seis dias depois, ele morreu — deixando o navio cargueiro MV Ital Libera sem um timoneiro, carregando um cadáver que a tripulação não tinha como armazenar e com um possível surto de Covid a bordo.

Por seis semanas, a embarcação com bandeira italiana ficou na costa da capital da Indonésia, Jakarta, sem conseguir encontrar um porto que aceitasse um cadáver durante a pandemia, apesar dos pedidos repetidos por assistência.

Finalmente, neste mês, o corpo do capitão foi retornado ao país natal dele, a Itália, onde a família enlutada está buscando respostas sobre a morte e o tratamento dele no mar, em um caso que novamente direcionou os holofotes para as condições dos navegantes durante a pandemia.

Recuperar o corpo, porém, pode não fornecer as respostas que a família espera. Não havia lugar adequado para manter um cadáver no Ital Libera, o que significa que o corpo de Capurro ficou numa sala de armazenamento por seis semanas.

"Sem entrar em detalhes, todos sabemos qual era o estado que encontramos", disse a advogada da família, Rafaella Lorgna. "Não sei nem se poderemos fazer uma autópsia."

Morte no mar

Capurro trabalhou no oceano durante a vida toda, tanto em navios cargueiros quanto em linhas de cruzeiro. A mulher dele, Patricia Mollard, 61, o seguiu ao redor do mundo aonde quer que ele fosse por trabalho. Eles se conheceram jovens e "viviam um para o outro", disse Lorgna. "Só posso imaginar o sofrimento dessa senhora". O casal vivia em La Spezia, um porto na riviera italiana, com o filho e a filha adultos morando nas redondezas.

Capurro veio de Trieste, ao norte da Itália, em 27 de março para capitanear o Ital Libera na viagem de 25 dias para a Ásia. Um dia antes, ele testou negativo para Covid-19. Com escalas em Doha e Johannesburgo, ele chegou no porto sul-africano de Durban em 28 de março. Poucos dias depois, em 1º de abril, o navio partiu rumo a Singapura.

O capitão começou a exibir sintomas de Covid-19 em 2 de abril. Ele estava tossindo sem parar e com dores musculares e no peito, além de falta de ar, segundo familiares, que ficaram preocupados. Em e-mails, ele se tornava mais errático e incoerente a cada dia, segundo a família; no telefone, as palavras eram pontuadas pela tosse quando ele ligava a milhares de quilômetros de distância.

Em 7 de abril, ele estava acamado na cabine dele, segundo a família. Um marinheiro recebeu a tarefa de levar comida e remédios a ele. Como capitão do navio, Capurro também era o atendente médico, então não havia mais ninguém para ajudar.

Isso não surpreende Rory McCourt, porta-voz da Federação Internacional dos Trabalhadores do Transporte (ITF), uma sociedade comercial global.

Um navio do tamanho do Ital Libera, de 294 metros, com uma tripulação de cerca de 20 pessoas, não teria um atendente médico dedicado a bordo, mas alguém que tivesse um treinamento médico básico.
CNN


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