18/07/2020 às 20h27min - Atualizada em 18/07/2020 às 20h27min

Maníaco do Parque faz crochê e tricô e teme covid-19 na prisão

Tricô e crochê são as atividades diárias de Francisco de Assis Pereira, 52, conhecido como Maníaco do Parque, preso na Penitenciária de Iaras, no interior de São Paulo.

Segundo agentes penitenciários, todos os dias Pereira passa horas e horas sentado sozinho no pátio do Pavilhão 3 do presídio, quieto e cabisbaixo, bordando tapetes e toalhas para banheiros.

Antes da suspensão das visitas, decretada em meados de março deste ano para evitar a proliferação do coronavírus, Pereira conseguia ganhar um dinheirinho, vendendo o artesanato para parentes de presos.

Até o início do ano, ele exercia outro trabalho: ajudava a fazer sapatilhas e roupas para bailarinos em uma oficina na unidade prisional. A fábrica encerrou os serviços. Pereira recorreu então ao artesanato.

Funcionários do presídio contaram que o Maníaco do Parque, apelido colocado por policiais, não tem amigos, prefere ficar isolado a maior parte do tempo e é bastante discreto.

Ele cultiva o hábito de ler a Bíblia Sagrada todos os dias. Também frequenta o culto evangélico ao menos uma vez por semana. Faz as orações em voz baixa e com os braços erguidos.

Pereira nunca gostou de jogar o tradicional futebol na quadra do pátio, durante o banho de sol. Jamais fez exercícios físicos.

Por causa do sedentarismo, o preso ficou obeso. Tem aproximadamente 1,70 m e pesa em torno de 100 kg. O medo dele é contrair covid-19.

O Maníaco do Parque é considerado por funcionários e diretores da unidade como um preso de bom comportamento. Na Penitenciária de Iaras não teve problemas com a disciplina. A ficha é limpa.

O isolamento de Pereira na cadeia só é quebrado a partir das 17h, quando os presos são trancados nas celas. Ele divide o xadrez com outros 11 prisioneiros. Há uma televisão para todos. O banheiro também é coletivo.

Em cada cela existem nove camas de concreto, chamadas de "pedra" na linguagem prisional. Três detentos são obrigados a dormir no chão, chamado de "praia" pelos presidiários.

Por ser um dos mais antigos na prisão, o Maníaco do Parque goza do privilégio de dormir em uma das "pedras", sobre um fino colchonete distribuído pelo Estado.

Servidores do presídio garantem que Pereira não recebe visitas. Nos primeiros anos de prisão, no final dos anos 1990, parentes o visitavam na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, no Vale do Paraíba, berço do PCC (Primeiro Comando da Capital), fundado lá em agosto de 1993.

Na sangrenta rebelião de dezembro de 2000 na Casa de Custódia, uma emissora de TV chegou a anunciar o assassinato de Pereira. A mãe dele, Maria Helena Pereira, viajou às pressas e aflita para Taubaté.

Assassinos em série: Maníaco do Parque

Ela encontrou o filho vivo e agradeceu a Deus. Ele só não foi morto graças à intervenção dos presos Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, hoje apontado como líder do PCC, e de Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra.

Os rebelados destruíram o presídio, chamado por eles mesmos de "campo de concentração" por causa dos constantes maus-tratos, torturas e espancamentos.

Marcola e Sombra entenderam que se Pereira fosse assassinado, a imprensa só daria importância à morte dele e não divulgaria a principal reivindicação dos amotinados, que era a desativação do presídio. Outros nove presos foram mortos, sendo três deles decapitados.

Dias depois da rebelião, os presos foram transferidos para outras unidades. Pereira passou por várias prisões. Na Penitenciária de Itaí recebeu milhares de cartas de mulheres. Hoje, em Iaras, ninguém escreve mais para ele.

Segundo a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), o Maníaco do Parque está preso desde 5 de agosto de 1998, foi condenado a 284 anos, 11 meses e 21 dias de prisão e poderá ganhar o benefício do regime semiaberto em 19 de maio de 2036.

Francisco de Assis Pereira foi acusado de ter estuprado e matado seis mulheres e de ter tentado assassinar outras nove. Os crimes aconteceram na mata do Parque do Estado, na zona sul da capital.

A Penitenciária de Iaras, atual endereço de Pereira, é destinada a presos condenados por estupro e também a detentos ameaçados de morte no sistema prisional.

UOL

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