05/07/2020 às 12h16min - Atualizada em 05/07/2020 às 12h16min

FHC orienta Bolsonaro a ficar quieto ou pensar nas consequências do que fala

Em artigo assinado hoje no jornal "O Estado de S. Paulo", o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB), 89, escreveu que o atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), se embaraça com sua própria sombra e cria confusão política.

O tucano disse no artigo cujo título é "Tempos confusos" que, se pudesse, diria a Bolsonaro: "presidente, não fale; ou melhor, pense nas consequências de suas falas, independentemente de suas intenções". E acrescentou:

"O líder maior é sempre o presidente, pelo menos enquanto continuar lá. Por isso é tão importante: se não souber falar, se tiver dúvidas, que o presidente se cale. Como nesta última semana. Melhor, contudo, é que se emende e fale coisas sensatas, que cheguem ao coração e façam sentido na cabeça das pessoas razoáveis."

O título do artigo se explica no primeiro argumento escrito por FHC. "Tempos confusos os que temos vivido. A tal ponto que estranhamos o que aconteceu no meio da semana: chamou a atenção o fato de o governo não haver arranjado nenhuma confusão nova".

"Isso depois de, sem se dar ao luxo de explicar melhor ao país as razões, o presidente haver dispensado vários ministros nas pastas da Educação e da Saúde". O tucano explicou que escreveu o artigo na sexta-feira (3).

De acordo com FHC, "é assim que vai andando o atual governo, meio de lado. Sem que os 'inimigos' façam qualquer coisa de muito espetacular contra ele, é ele próprio que se embaraça com sua sombra".

Ele complementou que "de repente, quando não há nenhum embaraço novo, nenhuma 'crise', o presidente não se contém: fala e cria uma confusão".

FHC disse ser verdade que o governo federal não teve sorte ao ter à frente o coronavírus que desencadeou a paralisação da economia, que já vinha de antes. "Mas a confusão política, desta ele se pode apropriar: foi coisa inventada pelo próprio presidente e seus fanáticos", afirmou.

"Por certo ela se agrava com a crise econômica e a da saúde pública. Mas o mau gerenciamento das crises e da política é o que caracteriza os vaivéns do governo Bolsonaro", acrescentou FHC.

Para ele, o governo federal desconsiderou os riscos da situação epidêmica no início e, depois, passou o bastão às autoridades locais. "O papel simbólico é sempre, para o bem e para o mal, de quem exerce a Presidência da República, tenha ou não culpa no cartório", ponderou.

"Além disso é o que prescreve a Constituição, no seu artigo 23, sobre as competências comuns, entre as quais está a de zelar pela saúde pública, como deixou claro o Supremo Tribunal Federal (STF) em sua decisão a esse respeito", disse.

Ainda de acordo com FHC, o governo não tem rumo nas principais áreas sociais e, por isso, "dificilmente encontrará a lanterna mágica para nos levar a bom porto. Não são apenas pessoas mal escolhidas. É a falta de projetos, de esperança, o que nos sufoca".

"Sei que é difícil, afinal eu estava em seu lugar quando houve o 'apagão' e também durante algumas crises cambiais. Não adianta espernear: vão dizer que a 'culpa' é sua, seja ou não. E, no fundo, é sua mesma. Não se trata de culpa individual, mas política", argumentou.

Ele disse que quem forma o governo é o presidente. "A boca também é dele. Logo, queiramos ou não, sempre haverá quem pense que o presidente é responsável. Vox populi, dir-se-á... É assim em nosso sistema presidencialista. E talvez seja assim nas sociedades contemporâneas", disse.

"Com a internet as pessoas formam redes, tribos, e saltam as instituições. Por isso é mais necessário do que nunca que haja lideranças. Em nossa cultura e em nosso regime, já de si personalistas, com mais forte razão os líderes exercem um papel simbólico, falam pela comunidade", pontuou.

UOL


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