16/10/2019 às 06h29min - Atualizada em 16/10/2019 às 06h29min

Padre acusado de estupro chamou coroinha de 'bundão' pela web

G1
Um print de uma conversa nas redes sociais entre o estudante Lucas Grudzien, de 22 anos, e o padre que ele acusa de estuprá-lo, mostra o religioso o chamando de 'bundão' e 'viado'. O jovem acusa o padre de abusar sexualmente dele por mais de um ano durante sua adolescência, quando ele frequentava uma igreja em Guarujá, no litoral de São Paulo. A defesa do religioso nega as acusações.

“Agora, o meu principal objetivo é alertar os jovens que passam ou passaram por isso por parte de autoridades, independente de usarem batina ou um terno. Que essas pessoas não se calem e tenham coragem de denunciar", disse Lucas ao G1 nesta quarta-feira (16).

De acordo com o ex-coroinha, o que o move a divulgar o caso atualmente é alertar outras vítimas e encorajá-las, além de acreditar que a justiça ainda deva ser feita. “O sentimento de estar perdido, de não saber o que está acontecendo é muito forte, mas não tem que ser maior que a coragem de falar”, diz.

Ele relatou ao G1 que pretende fazer um grupo nas redes sociais, em apoio a outras vítimas e famílias que passaram pelo que ele relata ter vivido. Estou recebendo o apoio de diversas pessoas, poucas se voltaram contra mim depois que resolvi falar e isso é muito importante. O apoio para a vítima é essencial, porque o primeiro passo é conseguirmos contar", diz.

Relembre o caso

Lucas acusa o padre de tê-lo estuprado quando ele tinha apenas 15 anos. Ele afirma que a família é católica e sempre frequentou a igreja. Aos 12 anos começou o curso para ser coroinha, quando, segundo ele, o Padre Edson Felipe Monteiro Gonzalez passou a se aproximar mais. Em 2012, a convite do religioso, ele passou a trabalhar na área administrativa da instituição católica.

Conforme está divulgado no site da Diocese de Santos, o padre, de 35 anos, já trabalhou em diferentes paróquias das cidades da Baixada Santista e também foi diretor e professor de Teologia. Ele ainda chegou a ser Assessor Eclesiástico Diocesano do Setor Juventude, entre agosto de 2010 e agosto de 2015. O religioso foi denunciado pelo jovem em 2014 tanto ao Ministério Público (MP), quanto a igreja.

Lucas afirma que, ao completar 15 anos, o padre pediu para ele trabalhar até mais tarde. Neste dia, começaram os estupros, que se estenderam de agosto de 2012, até dezembro de 2013. Durante esse tempo, o jovem afirma que passou a tirar notas baixas, ficar agressivo e depressivo, mas ter receio de contar o que acontecia.

Ainda segundo o estudante, o padre o orientava a apagar todas as conversas deles pelas redes sociais. Mas, uma das vezes, ele esqueceu e o pai acabou vendo e o questionando sobre o que estava ocorrendo. Após ter coragem de relatar tudo a família, eles registraram boletim de ocorrência e recorreram ao Ministério Público. A mãe dele também chegou a enviar uma carta ao Vaticano relatando o ocorrido.

O inquérito policial instaurado pelo MP foi arquivado, sem oferecimento de denúncia. O padre seguiu trabalhando normalmente até 2016 na igreja.

Diocese

Em nota ao G1, a Diocese de Santos, responsável pela administração da Paróquia Senhor Bom Jesus, afirmou anteriormente que, sobre a denúncia contra o padre Edson Felipe Monteiro Gonzalez, o Bispo Diocesano, D. Tarcísio Scaramussa, ao saber do ocorrido, iniciou, imediatamente, a investigação prévia, em 2 de outubro de 2016, de acordo com as normas canônicas, e decretou o afastamento cautelar do religioso do exercício do ministério sacerdotal. Toda a documentação relativa à investigação prévia foi enviada à Congregação para a Doutrina da Fé, em Roma, no dia 01 de novembro de 2016.

A Congregação para a Doutrina da Fé decidiu dar sequência, com um processo penal administrativo, e encarregou ao Bispo Diocesano o ofício de instaurá-lo, conforme as normas do Direito canônico. A conclusão do Processo Administrativo resultou na Penalidade Canônica de afastamento do Exercício Público do Ministério Sagrado por 5 anos, quando, então, a Congregação para a Doutrina da Fé decidirá sobre os encaminhamentos seguintes e qual será a decisão final.

A Diocese destaca que o inquérito policial instaurado pelo Ministério Público foi arquivado, sem oferecimento de denúncia. Afirma também que durante todo o tempo, desde a investigação prévia, o Bispo Diocesano esteve à disposição da família e de suas advogadas para esclarecer quaisquer eventuais dúvidas.

"Atualmente, Pe. Edson Felipe Monteiro Gonzalez realiza trabalhos técnicos, junto ao DEPIM (Departamento do Patrimônio Imobiliário da Diocese). O trabalho que realiza é pertinente com sua formação de Arquiteto. Recebe côngrua, conforme prescrito pelo Código de Direito Canônico (Cân. 1350, § 1). Ele está afastado do exercício público do ministério sacerdotal, e não exerce nenhuma atividade correspondente a este ministério", acrescentou.

Defesa

O advogado Ricardo de Souza, responsável pela defesa do Padre Felipe na época das acusações, afirmou que foram reunidos elementos e depoimentos que demonstravam que nada ilícito havia sido cometido. "O Ministério Público instaurou inquérito e apurou que não havia nenhum indício de cometimento de crime, portanto, não deveria haver ação penal. O inquérito foi arquivado e o caso foi extinto", destaca.

De acordo com a defesa, na época da investigação, foi realizada também busca e apreensão na casa do padre, assim como em seu computador e tablet, e nada foi encontrado. "A denúncia foi feita pela mãe do rapaz, porque ela supostamente teria encontrado mensagens dele e do padre no computador, mas o equipamento foi periciado e nada foi encontrado, então isso denota que a denúncia é inverídica, tanto que não reuniu elementos para que se propusesse uma ação penal", disse.


De acordo com Lucas, prints mostram algumas conversas entre ele e o padre na época em que acusa o religioso de estupro — Foto: Arquivo pessoal

De acordo com Lucas, prints mostram algumas conversas entre ele e o padre na época em que acusa o religioso de estupro — Foto: Arquivo pessoal

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