27/06/2019 às 07h27min - Atualizada em 27/06/2019 às 07h27min

Pai e filha morrem afogados tentando chegar aos EUA; foto chocou o mundo

A imagem é horrível e comovente: os corpos flutuando sem vida, abraçados, em uma das margens do Rio Bravo não mostram apenas o desfecho trágico da curta vida do migrante salvadorenho Óscar Martínez, e da ainda mais curta existência de sua filha Valeria, que não tinha sequer dois anos completos.

Este também é um retrato de uma tragédia maior, que é a crise migratória centro-americana, que ganhou todas as capas de jornais desta quarta-feira (26), e se tornou certamente uma das imagens do ano, talvez da década.

Segundo relato da mãe, em entrevista para uma correspondente da agência Associated Press, a morte deles teria acontecido no domingo (23). Óscar teria se jogado no rio com sua filha sobre os ombros, e quando tentou ajudar sua mulher a segui-lo, a menina se atirou nas águas, levando o pai a mergulhar para tentar salvá-la. Pela imagem, pode-se deduzir que o pai colocou a filha dentro da sua camiseta, como forma de evitar que ela se afogasse.

Outra coisa que chama a atenção na imagem é seu parecido com outra fotografia que impactou o mundo, nesta década marcada por crises migratórias: a do corpo desfalecido de um menininho sírio, afogado às margens de uma praia grega, completamente ignorado pelos turistas que desfrutavam suas férias.

É importante ressaltar que o drama vivido na fronteira entre o México e os Estados Unidos não se dá somente pela agressiva política migratória adotada pela Casa Branca desde o início da administração de Donald Trump – que chantageou recentemente o México de López Obrador a adotar postura semelhante, conseguindo os resultados que queria –, mas também às diferentes crises do capitalismo em países como Honduras, El Salvador e Guatemala, de onde parte a maioria dos integrantes das diferentes e imensas caravanas migrantes.

São pessoas desesperadas, que tentam fugir da miséria e da violência em seus países, e sonham com melhores oportunidades nas grandes metrópoles do país que se apresenta como o mais desenvolvido do mundo, mesmo que isso signifique enfrentar a onda de xenofobia contra os latinos promovida pelo discurso do presidente Trump.

“Isto aqui era um barril de pólvora, uma tragédia anunciada, por tudo o que sabemos que acontece nos acampamentos de migrantes perto da fronteira”, comenta a correspondente da Associated Press, Julia Le Duc. Segundo a reportagem da agência, somente no ano passado faleceram cerca de 283 pessoas tentando cruzar a fronteira entre o México e os Estados Unidos. Na semana passada houve 9 vítimas, entre as quais 4 eram crianças. Com Revista Fórum

imigrantes salvadorenhos e1561551494701 - A foto que chocou o mundo: pai e filha bebê morrem afogados na fronteira mexicana

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A história por trás da foto
De acordo com a jornalista, que relatou o momento em que fez a foto ao jornal britânico The Guardian, a mãe da criança, Vanessa, de 21 anos, relatou que a família procurou os serviços americanos na fronteira na esperança de solicitar asilo nos Estados Unidos. Por ser final de semana, o escritório estava fechado.

Ao deixar o local e se deparar com o rio, seu marido, Óscar Martínez Ramírez, de 25 anos e ex-cozinheiro em El Salvador, teria dito: “Vamos atravessar aqui”. Ele então colocou a filha, Valéria, por dentro de sua camisa para tentar atravessar o rio. Conseguiram.

A mãe também tentou atravessar o rio, antes do incidente com Oscar e Valéria e acompanhada por um amigo da família, mas eles desistiram e retornaram ao lado mexicano.

Óscar então deixou a menina já do lado americano e voltava para buscar a esposa. Ao olhar para trás, a pequena havia retornado à água. Ele tentou salvá-la, em vão, e os dois se afogaram diante do olhar de Vanessa.

A família estava em Tapachula, no estado mexicano de Chiapas, desde a semana passada. No México, no entanto, viviam há cerca de dois meses. No último domingo, decidiram seguir para os Estados Unidos.

Dados da Organização Internacional de Migração (OIM), referentes ao mês de maio de 2019, revelaram que mais de 40 pessoas morreram tentando atravessar o Rio Bravo.

Nas Américas, o número de fatalidades entre migrantes é de 408. Globalmente, há 244 milhões de migrantes, o equivalente a 3,3% da população mundial. O número de deslocados à força, contudo, superou neste ano a marca de 70 milhões depessoas.

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