Comerciantes reclamam (e têm lá suas razões) contra a proliferação de leis que obrigam a fixação de placas avisando aos incautos sobre as penalidades em vigor contra o preconceito e a violência.
Vêm aí mais duas – condenando a violência contra a mulher e a violação dos direitos humanos.
E, claro, vem aí – também – mais ranger de dentes.
Comerciantes têm razão em pelo menos um decibel dessa grita toda:
Não há parede suficiente que sustente uma nação tão contraditória:
Um País mestiço que tem fobia de negros;
Uma pátria feminina (maioria absoluta da população, comandantes de parcela graúda das famílias e cada dia mais expressivas nas pautas políticas-econômicas) que enxerga o horizonte de olho roxo;
Uma gente latina consumida pelo fogo da linha do Equador que tem pudor de falar sobre sexualidade e ideologia de gênero nas salas de aulas.
Um País, em resumo, que foi lá na Rússia se escandalizar com as leis de Putin contra as mulheres e não consegue – dez anos depois de Maria da Penha – rebaixar um só índice de violência contra as brasileiras.
A pedagogia ostensiva – e toda a reação que ela desperta – só reforça o entendimento de que precisamos dela.
Nem que seja para exibir, de cartaz em cartaz, o nosso ridículo.
E escancarar, nas paredes apinhadas, a distância que nos separa do País que pensamos ser e o que de fato nós somos.
As placas são memes de nossas entranhas culturais distorcidas.
Um vexame em preto em branco – tão revelador de que o melhor do Brasil é o brasileiro… E o pior, definitivamente, também.